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sábado, 2 de abril de 2011

os óculos (roubados) de Drummond

Liguei a TV e vi a seguinte notícia: “roubaram os óculos de Drummond”.
Que nos roubem. Que nos agridam. Que nos iludam (com a política).
Até mesmo que nos matem (aceitamos).
Mas profanar Drummond é pecado sem perdão.
É condenação sem julgamento.
É atentado violento ao pudor poético brasileiro.

Ah Drummond! se vivo estivesses,
sofrerias amargamente essa decepção de ver teu reflexo fracionado.
Porém, haverias de compor mais uma bela poesia
pois, o cotidiano, sempre te fez bem.
Saberias habilmente como tirar proveito de mais esse embaraço no país do faz de conta.
Pois estamos sempre fazendo de conta:

Fazemos de conta que há segurança;
Fazemos de conta que há educação;
Fazemos de conta que não há miséria;
Fazemos de conta que há vida (saúde);
Fazemos de conta que tivemos independência;
Fazemos de conta que somos espertos;
Fazemos de conta que somos desenvolvidos;
Fazemos de conta que não somos preconceituosos;

Fazemos de conta que foi só mais um roubo,
que amanhã alguém colocará óculos novos em teu rosto
e que a vida é isso mesmo.

E será só isso Drummond? Um roubo aqui, outro ali?
Um poeta violentado, uma criança abandonada?
É Drummond! A que ponto chegamos!?
Tu, o mais célebre entre tantos, sofrendo em pleno século XXI.
É Drummond! Amanhã verei novamente a TV
e então nos encontraremos mais uma vez.
E, quem sabe, estarás de visão nova.

Sossega Carlos que a vida é assim mesmo:
hoje se é agredido e, amanhã, espera-se que não.
E é só o que nos restou: ESPERAR.

Penélope SS
19/10/07 00h:27

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