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sábado, 26 de dezembro de 2020

Macabéa e as estrelas

 

A Clarice Lispector

 

Macabéa peregrina nos cantos e esquinas

Aos gritos e saltos, aos baixos e altos

Da vida minúscula e passageira que

Lhes imputaram alguns olhares vis.

Deixa estar Macabéa que as estrelas

Te serão mais brilhantes quando as

contemplar de cima.

 

@adrianorocksilva

26/12/20 10h31min

Clarice finda est

 

A sempre admirável Clarice Lispector

 

Ainda bem que Clarice já morreu

Para não ter o desprazer de viver

Nesse mundo tão vil e cinza

No qual vivo eu.

 

@adrianorocksilva

26/12/20 10h23min

Clarice

 

A imortal Clarice Lispector

 

Ainda que tropecemos nas infinitas sandices

Dos sábios ignóbeis que aos ventos sopram suas idiotices;

Ainda que tenhamos o desprazer de mirar suas vigarices;

Ainda sim, ultrapassaremos essa planície coberta de mesmice

Com o ímpeto e a firmeza serena da imortal Clarice.

 

@adrianorocksilva

26/12/20 10h17min

Saudades de ti, poesia

 

Há tempos que caminhas sem destino certo

Enquanto vago no extremo oposto, incerto

Das certezas que antes me mantinham no eixo,

Na segurança suave da sobra do teu freixo.

 

@adrianorocksilva

26/12/20 10h03min

Volta

 

Corria às pressas a pressa toda ofegante

Nas margens da folha lisa; enquanto vagante

Ideia florescia no ócio laboral do pensante

Sem a menor pressa de ser parida.

 

Batia à porta o desejo, todo afobado e ansioso,

Clamando, na súplica tensa do fantasioso

Poema, uma saída para tamanha vertigem

Que o consumia desde o fim até a origem.

 

Fremia o poeta com tamanha cobrança:

De um lado a pressa com agitada ânsia;

Do outro o desejo e sua insegurança;

Ambos a oprimir o siso versado. Ganância

 

Vaga e chula; parca e rasteira...

Poeta nem tem pressa, nem afogo

Tanto faz calmaria como arroubo.

Poeta é casa aberta, sem eira nem beira.

 

@adrianorocksilva

27-08-20 11h56min

Um poema para Kafka

Poema, poema

Aí de mim

Que vivo e morro

Na sarjeta

No socorro

Nas vielas

Ando, corro

Pra findar

O meu dilema.

 

@adrianorocksilva

27-06-20 21h00min

Cordel do aprendiz

 

Para minha amada filha Penélope


Para fazer um cordel

Muito não precisa ter

Basta caneta e papel

E também gostar de ler.

 

Estude bem o seu tema

Pesquise na internet

Atente ao teorema

E as rimas que se repete.

 

Cada verso tem tamanho

Bem marcado e dividido

Se errar perde o rebanho

E o cordel fica perdido.

 

Vá buscar nos alfarrábios

Os cordéis que já existem;

É uma fonte inesgotável

De um povo inimitável

Desse Nordeste alegre-triste.


@adrianorocksilva

14-06-20 13h:51min.

domingo, 7 de junho de 2020

Poesia literata


Nunca entendi as loucuras de Hamlet
E talvez seja por isso que ainda hoje
Nos fascinamos com suas máximas.
Nada há que Shakespeare não nos

Mostre antes mesmo que o desejemos.
Nunca decifrei os enigmas de Joaquim Maria
E mesmo assim fascina-me as intempestivas
Aventuras de Brás Cubas em seu esquife.

Ilude-se quem busca nos livros fórmulas
Prontas para livrar-se de suas angústias.
Mais fácil uma bula de remédio esclarecer

Com exatidão nossos sintomas diários
Do que um literato. Mas, ainda sim, fico
Com os enigmas de Agatha M. C. C. M.

@adrianorocksilva
18-05-20 21h53min.   

Poema metafísico


Onde há o que se muito busca e há tempos
Remotos que os grãos não se movem na
Ampulheta estática, retrocedida pela física
Dos corpos; massas em movimentos

No pêndulo vital. Sobe e desce de almas
Na queda brusca da tarde profética, onde
As existências nada mais são que nada
Além de átomos finitos e acabados.

Augusto dos Anjos tinha razão quando
Nos representava como na verdade somos:
Carne; sangue; suor; bactérias; desejo que

Se inicia para no instante seguinte evaporar
Ao sabor da Natureza. Augusto, Augusto
Ai de nós que sofremos do mal de Procusto.

@adrianorocksilva
18-05-20 21h25min. 

sábado, 11 de abril de 2020

Quadrinha do dia maior


Onde o acordar do solstício veraneio
Anuncia a boa nova do vindouro altaneiro.
Hosana em uníssono, ouve-se por inteiro
Com a vinda do Sal da Terra, imortal Cordeiro.

@adrianorocksilva
10-04-20 20h46min.

domingo, 5 de abril de 2020

Zilda


Poema em homenagem à mãe do amigo,
compositor e cantor Rodrigo Avelino

Distantes as horas e os pensamentos,
Quando em ti ponho olhos meus.
Distantes as vozes ao redor,
Quando sorriso largo em rosto teu.

Alegria de minha face, em tempos tão penosos.
Saída minha, meu Norte, afagos de mãe: amenosos.
Alegrei-me por certo, ao ouvir-te cantar
Doces cantos; aprendi teu falar

E em teus braços firmei meu abraço,
Na firmeza forte da fibra cujo traço
Trago tatuado em meu braço.

A ti, madre honrada e bem nascida,
Mil trovas farei; airosas todas, aguerridas;
Honrando nome teu: formoso, belo, Zilda.

@adrianorocksilva
03-04-20 22h20min.


Náusea


Poema em homenagem a Jean-Paul Sartre

Desci todos os degraus
e caminhei pela longa avenida.
Mesmo com a náusea a me lembrar
de todas as vozes e rostos que deixei
para trás.
Pronto estava para seguir a trilha
tortuosa das ruas frias e
nebulosas de Paris.
Somente me atrai o aroma dos cafés;
o sabor do sal nos acompanhamentos;
braços; óculos.
Peguei minha conta;
fiz gesto de comprimento;
voltei à minha máquina de escrever.
Agradeço infinitamente
a companhia noturna da náusea.
Conversamos sobre as teorias mais intrigantes;
os astros e todos os anéis de Saturno. Sei lá;
Desci meus óculos e bebi minha última xícara de café.
Dormirmos e imaginamos outro poema:
Eu e minha náusea.

@adrianorocksilva
12-03-20 20h33min   


Metalinguagem da rima


Sabida é a rima, que nunca sai de moda;
Tá sempre na boca do povo, rodando a roda
Do tempo; vivendo da chuva e do vento,
Saltando de galho em galho; esperto invento
Humano, lhe digo rimando: a rima é foda.

@adrianorocksilva
02-02-20 21h08min.

Poeminha avoador


Quisera eu, verso meu em boca de poeta
Mas destá que um dia, minha rasteira poesia
Dessas que escorrem feito água em ladeira,

Deixa de ser abstrata e se transmuta em concreta.
Quisera um verso avoando pelo Mundo a fora
De asas abertas, plumagem sedosa, no raiar d’aurora.

Avoando, avoando, no alto céu de anil
Mirando horizonte, erguida fronte
Desfilando fagueira Norte e Sul do Brasil.

@adrianorocksilva
02-02-20 20h44min

sábado, 18 de janeiro de 2020

Débito vitalício


A Vênus

Não há obra feita que de ti não
se reconheça um traço.
Um verso meu;
uma quadrinha que seja;
um branco espaço.
Um riso ou choro,
em palavras convertidas,
trazem envolvidas
em teus laços o saber poético;
o brilhar estético que nenhum vivente,
por demais profético, possa antecipar.

@adrianorocksilva
18-01-20 21h04min

Antígona


Homenagem a tragédia grega Antígona

Ao destino entrega-se o clamor
da vida pela vida de quem
não mais vivo está.
E faz-se a tragédia dos vivos
no teatro cinza e turvo de Tebas.

Não há mais o que lamentar
quando tudo se cobre de rubro
e as forças se esvaem.
Reis lamentam; rainhas silenciam.

Eis o silêncio que ecoa no campo
de batalha e nos corredores da
realeza destroçada.
Deve-se temer os que dizem amar.

@adrianorocksilva
18-01-20 20h47min

O acéfalo


Olhem lá quem vem de longe
A acenar aos títeres de bem.
Alegre e tão cortês, eis que vem
Com sua risada espúria, o abjeto conge.

Aplausos e euforias; alegrias; alegrias
Eis que retorna o sol da idolatria.
Bem-vindo seja, acéfalo, nosso guia.
Eloquente estulto, régio raso da Fidalguia.

Perguntar deveras não ofende,
E a mim uma pulga me angustia:
Se o Grande Alexandre, de Bucéfalo fez cidade,
E Calígula, de Incitatus senador,
Por que tantas lamúrias
Em termos, como acéfalo, um regedor?

@adrianorocksilva
16-01-20 22h07min.


Quadrinha de Eco


Donde estais, Marília, que a ti não ouço?
Repetia o deus da voz cerrado no calabouço
Gélido e desalumiado. Velando por ti amoreco,
Repetia a amada aos clamores do acarinhado Eco.

@adrianorocksilva
02/01/20 22h33min

Poema moderno


Cambaleia o poema pelas ruas
escuras e sem encostas.
De um lado ao outro.
Trôpego, assimétrico,

com sua arritmia modernista.
Sem o brilho camoniano,
nem tampouco a eloquência de um Bilac.

Apenas anda e saúda os transeuntes.
Todo poema modernista é assim:
um equilibrista na linha literária
sem a menor pretensão de
tornar-se um Clássico.

@adrianorocksilva
02/01/20 22h06min

O cego e o safo


O dia cai na rapidez da gravidade
E todos se põe em casa; adversidades
Crescem como espinhos na promiscuidade
Poluída dos rios cheios de insanidade.

E o cego que nunca viveu o vil e torpe
Tormento, orgulha-se de suas asnices;
Deita e rola, abraçado à sua tolice.
Abana o rabo e age como se agisse.

Ri o cego, enquanto o safo o afana.
Ri o safo, enquanto o cego se ufana.
Cai o dia e a noite anuncia nova mañana.

@adrianorocksilva
26-11-19 22h11