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sábado, 18 de janeiro de 2020

Débito vitalício


A Vênus

Não há obra feita que de ti não
se reconheça um traço.
Um verso meu;
uma quadrinha que seja;
um branco espaço.
Um riso ou choro,
em palavras convertidas,
trazem envolvidas
em teus laços o saber poético;
o brilhar estético que nenhum vivente,
por demais profético, possa antecipar.

@adrianorocksilva
18-01-20 21h04min

Antígona


Homenagem a tragédia grega Antígona

Ao destino entrega-se o clamor
da vida pela vida de quem
não mais vivo está.
E faz-se a tragédia dos vivos
no teatro cinza e turvo de Tebas.

Não há mais o que lamentar
quando tudo se cobre de rubro
e as forças se esvaem.
Reis lamentam; rainhas silenciam.

Eis o silêncio que ecoa no campo
de batalha e nos corredores da
realeza destroçada.
Deve-se temer os que dizem amar.

@adrianorocksilva
18-01-20 20h47min

O acéfalo


Olhem lá quem vem de longe
A acenar aos títeres de bem.
Alegre e tão cortês, eis que vem
Com sua risada espúria, o abjeto conge.

Aplausos e euforias; alegrias; alegrias
Eis que retorna o sol da idolatria.
Bem-vindo seja, acéfalo, nosso guia.
Eloquente estulto, régio raso da Fidalguia.

Perguntar deveras não ofende,
E a mim uma pulga me angustia:
Se o Grande Alexandre, de Bucéfalo fez cidade,
E Calígula, de Incitatus senador,
Por que tantas lamúrias
Em termos, como acéfalo, um regedor?

@adrianorocksilva
16-01-20 22h07min.


Quadrinha de Eco


Donde estais, Marília, que a ti não ouço?
Repetia o deus da voz cerrado no calabouço
Gélido e desalumiado. Velando por ti amoreco,
Repetia a amada aos clamores do acarinhado Eco.

@adrianorocksilva
02/01/20 22h33min

Poema moderno


Cambaleia o poema pelas ruas
escuras e sem encostas.
De um lado ao outro.
Trôpego, assimétrico,

com sua arritmia modernista.
Sem o brilho camoniano,
nem tampouco a eloquência de um Bilac.

Apenas anda e saúda os transeuntes.
Todo poema modernista é assim:
um equilibrista na linha literária
sem a menor pretensão de
tornar-se um Clássico.

@adrianorocksilva
02/01/20 22h06min

O cego e o safo


O dia cai na rapidez da gravidade
E todos se põe em casa; adversidades
Crescem como espinhos na promiscuidade
Poluída dos rios cheios de insanidade.

E o cego que nunca viveu o vil e torpe
Tormento, orgulha-se de suas asnices;
Deita e rola, abraçado à sua tolice.
Abana o rabo e age como se agisse.

Ri o cego, enquanto o safo o afana.
Ri o safo, enquanto o cego se ufana.
Cai o dia e a noite anuncia nova mañana.

@adrianorocksilva
26-11-19 22h11