Meus seguidores

domingo, 25 de dezembro de 2022

Desserviço

Desserviço

 

Fazer poesia é, de longe, um grande

Desserviço a humanidade.

Aconselho-te a edificar prédios, casas, centro de compras.

Assim terás teu nome escrito aos montes em placas de ruas,

Nas praças verdes dentro das cidades;

Nas câmaras e assembleias imprimirão títulos e honrarias

Para serem fotografados em tuas mãos de inovador, futurista até.

 

Deixe a poesia a quem o ócio é amigo fiel.

A quem de tanto divagar chega a dialogar

Com o mundo abstrato dos seres e objetos.

 

Deixe que a poesia se acomode nas folhas

Dos que imaginam a queda da pluma na

Chegada imperceptível da primavera,

Enquanto os passantes se apressam;

Se esbarram;

Tentativa vã de chegar onde ainda não sabem.

 

E mesmo ao canto mais belo da ninfeta

Anunciando a beleza doce da poesia,

Passarão os viventes, comumente, dia após dia

Sem reparar na magia fecunda e extasia

Que exala a firme e vital pena do poeta.

 

@adrianorocksilva

25/12/22 09h57min

 

Nunca me fiz de rogada

 Nunca me fiz de rogada

A Hilda Hilst

 

Falei a todos o que quis

Dos meus versos incompreendidos

Ficou a compreensão

Dos enigmas que sempre às claras deixei.

 

Da Casa do Sol repleta de vida e som;

Do verso que me vinha às pressas.

 

Escrever não é labuta.

A inspiração sempre foi minha primeira estrada.

Depois o debruçar nas palavras. Desentortá-las.

 

Nunca dancei como mamãe desejava.

Meus pés foram feitos para a liberdade da terra.

Por isso as sapatilhas nunca me caíram bem.

 

A papai que tanto amei,

Me fiz escritora para nivelar-me ao seu labor.

E laborei deveras durante minhas décadas de existência

Para ao final de tudo chamarem-me: hermética.

 

@adrianorocksilva

25/12/22 6h20min

O saber do poeta

O saber do poeta

A Manuel Bandeira

 

O saber do poeta é infinito e perene

E por mais que se passe o tempo

Que se passem as horas e dias

Em nós é latente, crescente.

 

De Bandeira não falo porque

Autoridade não me foi dada

Apenas me banho em seus versos

De fonte límpida, pradejada.

 

Sonora é a rima que no verso

Métrico desfila seu triste fiar,

Enquanto nas ruas cinzentas

Circulam passantes, vagantes

Aos montes sem de ti recordar.

 

@adrianorocksilva

05/12/22 18h20min

 

Onde me vejo

Onde me vejo

 

Na voz que grita latente

Dentro de mim, feroz, estridente

Guiando meus passos na noite

De outrora; buscando caminhos

Saídas, loucuras

Livremente

 

Na estrada manca de sol escaldante

Minha pele descama e clama,

No meio-dia do Equador linear,

Abrigo e descanso; repouso

E refúgio na lida que levo

Errante

 

Quem dera, queimar

Fosse, todo esse infinito

De sal que de além mar

Te trouxe; oh mal!

 

Dissipa-te de vez

Névoa de fel

Luz ancestral

Castigo europeu

Chaga nossa

Ventral

 

@adrianorocksilva

27/11/22 23h48min