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quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Conselhos de Clarice

Conselhos de Clarice

Mais um poema em homenagem à inigualável Clarice Lispector


Leio e releio os contos de Clarice
E sempre me pego na meiga tolice
De acreditar em suas divagações;
Em suas máximas e desilusões.

Agarro-me aos seus conselhos
E me vou ao desconhecido; joelhos
Cansados de tantas quedas e solavancos
Todavia sigo Clarice, aos trancos

E barrancos. No mais, a recomendo
A quem deseje sentir-se vivo e altivo
Seja na esfera solitária ou agregada;

Na loucura dos versos; na chagada
Existência do ser indeciso e plural,
Lendo-a com afinco e ardor gutural.


Penélope SS

28-9-17  21h:25 

Ora, direi...

Ora, direi...

Em homenagem ao imortal poeta Olavo Bilac


Ora, direi... não consigo ouvir
As estrelas como Bilac, pois elas
Se recusam a me contar certas
Confidências. E a esmo fico

Feito tolo, a mirar esse limpo
E brilhante céu, cheio de constelações.
Ora, direi... melhor nada dizer;
Melhor calar e mirar, e admirá-las.

Talvez tamanha recusa se dê por
Conta de minha métrica desregrada,
Ou por falta de decassílabos, sei lá

Eu. Contudo, direi, e ora, direi...
Que as admiro mesmo assim
Entes luzentes na noite sem fim.


Penélope SS

28-9-17  20h:38

Ah, quem me dera...

Ah, quem me dera...

Em homenagem ao grande poeta Eduardo Alves da Costa


Ah, quem me dera um doce afago
Dentro desses dias de gosto amargo
E enfadonhos. Quem me dera riso
E céu aberto, dentro do imprevisto

Das horas infindas. Nessas idas
E vindas, aos tropicões e vida
Acinzentada. Quem me dera
Aroma floral, dentro da quimera

Noturna que jaz me consome.
Ah, quão tolo é meu desejo
Ao passo em que me deito

Na gélida alcova que outrora
Se fez vistosa; nascente Aurora.
Oh, delírio febril; chamando teu nome.


Penélope SS

28-9-17  20h:50

terça-feira, 26 de setembro de 2017

Lirismo galante

Lirismo galante


Meu lirismo estragou a noite.
Fez chover quando na verdade deveria
Apenas sentar-se à mesa e sussurrar
Palavras de alto calão. Educadamente,

Me retirei e o deixei a mercê dos
Transeuntes que se abrigavam em
Suas cadeiras de marfim; todos
Com suas damas e ternos e risos

Extravagantes. Sentei-me ao piano
E arrisquei Chopin. Fui tomado
Por tamanho transe que cheguei ao

Ponto de quase não sentir meus dedos
Nas teclas; e enquanto isso, meu
Lirismo encantava as damas na antessala.


Penélope SS

26-9-17   20h:51

Poesia didática

Poesia didática


Onde mais cabe a poesia, senão
Nas mãos suadas e trêmulas dos
Leitores dos folhetins deste século
Obscuro e leproso. Onde pôr todas

As assonâncias e aliterações e todos os
Sonetos, senão neste fim de tarde
Que por hora é o que nos apetece.
Sejais tua própria obra, mesmo que

Cinza ou por hora incompreendida;
Mas sejais, sejais tua própria tela,
Tua musa e tuas tintas. Assim é que

Nasce o que chamamos Arte. Tolos os
Que tentam enquadrar todas as peles
No mesmo tom; poesia é ser o que se é.


Penélope SS

26-09-17   21h:03

Poeminha sobre o piano de Chopin

Poeminha sobre o piano de Chopin


O triste do piano é o silêncio que
Ele exige de nós. Minimamente
Suspiramos, respirar nem pensar,
Enquanto ouvimos o dedilhar macio

E firme.

A alegria do piano é o estrondar das
Palmas, ao final da execução. Bravo!
Bravo! Gritamos em uníssono, enquanto
Os amores se entreolham, buscando uns

Aos outros.    


Penélope SS

26-9-17   21h:42

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Quadrinha de fim de tarde e início da primavera

Quadrinha de fim de tarde e início da primavera


Alinhou-se o sol e todo seu esplendor
Aquecendo a vida que jaz fria andava
Tristonha e cabisbaixa; tornando a flor
Doce e vistosa; e as mãos amaram-se, novamente.


Penélope SS

22-09-17  16h:34

Voltando ao início

Voltando ao início


Descendo as escadas a largos
Passos, corre o Homem, ao passo
Que sua humanidade regride, fora
Do compasso; cambaleante e claudicante.

Constato todas as hipóteses de aniquilação
Diante do luzente objeto que cruza o céu
E minha visão. Ataques e sotaques à beira
De um ataques de nervos e de bombas.

Corramos dos tremores; das ondas e das
Inundações. Corramos dos homens-nada
E dos que se estraçalham por cega-visão;

Corramos da ira das gravatas que apertam
Todos os botões-vermelhos; corramos...
Até que a única saída seja mudar de casa.


Penélope SS

22-09-17  15h:20

Não existe dinheiro na poesia

Não existe dinheiro na poesia

Mais uma homenagem ao sempre inspirador Alan Poe


Constatou-se que Poe morreu como
Indigente ou coisa pior. Um monte
De terra jogada na face de uma mente
De brilho incomparavelmente raro.

E após tal heresia, todos foram para
Suas casas jantar e ler notícias do
Dia. Somente Virgínia pode adentrar
No âmago do poeta e lá acender

A luminária do sopro vital. Apenas
O olhar da musa o fez pulsar com
Mais brio e encher os pulmões

De amor ou coisa que o valha.
Contudo, lhe vieram a dor e a
Perda; e findou-se a poesia e o poeta.


Penélope SS

22-09-17  15h:34

Fragmento

Fragmento

Em homenagem a poetisa Flor, Priscila


Trago em mim todos os fragmentos
De meu povo: a dança na senzala e
As tintas espalhadas no corpo; exala;
Espalha; embaralhando todas as dores

E gemidos sentidos por quem me
Precedeu. O suor na labuta; cantigas
Ao anoitecer exaltando ancestrais e
Os ais e os partos e toda sorte de não

Tê-la. Trago intrínseca a vergonha dos
Navios abarrotados de vidas e o banzo
Que mata de tanto sentir o cheiro ao

Longe; distante o desterro do chão,
Do lar, do além-mar, do penar e lutar
E triunfar: vigor de herói na barriga da serra.  


Penélope SS

20-09-17  19h:55

sábado, 2 de setembro de 2017

A falta

A falta

Em homenagem aos 30 anos da morte de Carlos Drummond


Falta tua é dor imensa
Ausência que descompensa
Latente, pungente e amarga;
É dor infinda, profunda e larga.

Falta da voz, firme e sábia
Palavras, pedras, caminhos, calma.
Fila do feijão e tantas outras onde
Nos quedamos à espera do bonde;

À espera do vindouro e ouro
Das Minas, com seus óculos
A mirar-nos, e suas órbitas

Malfadadas pelo triste agouro  
Dos dias contemporâneos. Ossos
Do ofício esse faltar; essas cólicas.


Penélope SS
17-8-17  9h:43   

  

Passarinho molhado

Passarinho molhado

A Mario Quintana

Acolhi em mim teu riso
Teu lirismo sincero e puro
Tuas imagens diversas.

Acolhemos o poeta tímido e conciso
Em suas graças singelas, sutis e seguro
Acolhamos seu canto, seu voar, e conversa.


Penélope SS

24-8-17  9h:41