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domingo, 24 de maio de 2015

Olhos

Avistei, bem ao longe, olhos intensos
Imensos como o infinito. Suspirei e sei
Agora o que se chama beleza. Tanto errei
Ao procurar em outras ruas teu endereço.

Tanto me cansei; tanto pequei jurando
Estar em outrem o que apenas há no imenso
Mirar de tuas órbitas. Aqui, tão perto, mirando
Imagem tua, me deparo com a certeza, clareza

De chegar ao fim busca minha. Sentarei aqui
E permanecerei incólume, ao lado teu, enfim
Chegada é a hora dos lábios dizerem sim.

Enfim, unamos nosso desejar porque amar
Por Eros e Vênus nos foi permitido: amar
O quanto nos é lícito, gracioso e eterno: amar.


Penélope SS

3-5-15  23h:36       

Tua pele

Caminhei sobre ti durante horas a fio
E em cada entranha fixei-me como navio
Em águas virgens, calculando passos
Abraços e afagos a mil. Em ti caço

O que em mim há metade: desejo e laço,
Maço de abraços em braços bravios,
Impulsivos e lascivos. Desejei-te ardente,
Flamejante ímpeto, feito fiel e crente

Servo de tua pessoa. Musa de olhar esguio
Tão minha, tão leve e entregue, firme aço
Ao transpassá-la no afinco gozo da dor.

Caminhei sobre tua epiderme e me fiz carne
Única junto a teu suor: caminhos, estradas, túneis.
Eis definição de sentir, tu, beleza dos mares: amor.


Penélope SS

3-5-15  23h:16

Tu, minha página

Deixei a página em branco, até meus
Pensamentos formarem tua visão.
Desde então, fixei-me na doce-ilusão
Dos teus gemidos. Ungido por teus

Lábios, purifiquei-me, tornando-me são
E casto. Religiosamente, aguardo seus
Tremores, odores florais, virginais. E eu
A guiar-te, meticulosamente a tocar-te. Não

Me permitam os deuses, distanciar-me de calor
Tão intenso, fogaréu diário que a vênus peço.
Oh! Gozo de Baco; vinhos e vinhedos, sabor

Teu a me embriagar os sentidos. Caído, enfim, meço
O imensurável amor a ti desferido, enquanto rezo
Aos céus por teus ais em meus ouvidos: existes amor?


Penélope SS

1-5-15   15h:56

Livro

Assim escreverei meus dias e noites,
Solitariamente, eu e minhas tintas
No silêncio noturno das horas; acoites
Internos entre meus suspiros. Acreditas

Tu em minhas palavras? Enquanto ouves
Meus sonidos e lamentos; todas as listas
Deferidas, de meus improváveis temores,
Em folhas claras, raras equações, vista

Enfadonha. Dias, anos a fio, nessa labuta
Minha, desgastando meu ser a despeito
De musa ingrata e insana. Inglória luta,

Te digo e repito. Dia de findo penar meu peito  
Anseia; minh’alma exige tal trégua. Curta
É toda vida nesse penar de sermos errôneos e sem jeito.


Penélope SS
1-5-15  15h:30   

Dureza é ser

Sinto-me caminhando nesse caminho
Torto e sem fim; onde piso não faço ninho
Sem teto e sem leito, apenas eu cuidando de mim.
Estrada enviesada, Alice sem magia, poema chinfrim.

Sinto-me, gravitacionalmente falando, zero de zero
Pernas soltas; braços ao vento. Sem apego; nem elo.
Aqui, nesse pedaço de eu, submeto-me a ser honesto
Deixando, tão logo me enfastie, o tédio e todo o resto.

Dureza é ser quando não se permite. Doer dor de outrem
É sangrar gratuitamente, gastando líquido, vertendo
Forças, deixando poças aqui e ali. Moldem

A mim pelo que digo. Escrevo sobre minhas dores; vendo
Minhas palavras a seus caprichos. De ti sigo querendo
Lanterna; luz nesse breu; fagulhas de fé a me iluminarem.


Penélope SS

24-4-15  23h32   

Quente aqui como outrora

Quente é aqui onde estou. Nesse chão
Despejo meu suor, gota a gota. São
Como lágrimas de meu sal;
Como o sofrer de Portugal.

O indo e vindo de suas naus
Oceanos a fora; tormentas, glórias.
Homens ao mar; velas ao vento. Vitórias
À coroa e sangue e ais aos desterrados. Mal

Te digo neste dia infernalmente caliente.
Jogai tuas esperanças em outras índias,
Outras rotas. Bem sabeis tu as perfídias

Que incutistes neste chão de gentis gentes;
Deuses convertidos; fé, roupas e genes.
Onde piso é quente, como de Tupã a ira.


Penélope SS

24-4-15  22h:58

Vida

Homenagem à Jennifer Yamashita

Andei distante, um pouco fora de mim
Meio tristonha, enfadonha, sei lá, assim.
Tão não eu que ser meu reclamava volta,
Gritava meu corpo, minh’alma batia à porta

Exigindo restauração, reparo. Porém, torta,
Seguia por longínquos lares, singrando mares,
Ondas quebrando, rebentando peso. E eis que lares

Diversos acolheram meus ais, estenderam mãos
Firmes, certas, calor de vida, irmandades, irmãos
Que supunha não haver. E hoje, aqui, todos hão

De ver e ouvir meu novo suspiro, respiro vivo,
Pulmões berrantes, coração ativo, olhar altivo.
Distante andei, bem sei, mas agora pulso; a vida revivo.


Penélope SS

20-2-15  23h:27