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quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Café Preto, Resenha crítica acerca do conto Jamile, de Flor, Priscila

Resenha crítica acerca do conto Jamile, de Flor, Priscila

Por AdrianoRockSilva
Texto elaborado em 11-1-2018  20h:49

Café Preto

Boa noite.
Preciso alertar a você leitor ou leitora de que essa resenha crítica tomou proporções diferentes das que eu tinha em mente. Queria apenas comentar com palavras observadoras e alguns floreios sobre o conto Jamile, contudo a escrita de Flor, Priscila nunca é linear e previsível, fazendo com que nossas ideias também sejam insubordinadas à nossa tentativa de racionalidade. Diante disso, decidi, então, transcrever o mais claro possível, a minha caminha noturna ao lado da instigante Jamile. Acompanhe-me.
Jantei. Tomei um bom café preto e saí pelas ruas. Vaguei e observei os transeuntes. Dentre eles uma de olhos roxos me chamou atenção: Jamile. Jamile, a moça que vive na “ponta do meio-fio”. Jamile, a equilibrista noturna. Não estou inventando nada. Tudo me foi dito por ela mesma. Falou-me sobre tudo que viveu; vive e sente. Relatou-me das sujeiras ditas aos seus ouvidos durantes as noites e dos poemas que lia durante o dia, para purificar sua alma. Cria, cegamente no poder depurador da água. Gostava de banhos demorados. Deixava escorrer todos os sórdidos pensamentos. Unia-se a água; Divinava-se (se é que existe esse verbo) e, assim, acreditava expurgar “sua pele maltratada e violada”.  E saia. “Atravessando ruas”; explorando as noites dentro da noite mais incerta e obscura.
Mais um café preto. Em algum bar ainda aberto a essa hora da noite. E sigo minha empreitada no encalço de Jamile. Conheci seu “diário”; lacrimejei quando passei meus olhos por tantas palavras inocentes, lacrimejei. É fato. E agora sinto o amargor do café preto em minha garganta ainda mais amargo, pois diante de mim jaz um corpo deitado no frio cimento da noite. O corpo é o de Jamile. O crime é feminicídio (Amor? Paixão?), artigo 121 do Código Penal. O autor desconhece-se mas todos os curiosos sabem que foi por amor. Todos sabem e se omitem. Todos. Enquanto mais uma Jamile jaz, deitada, no frio esquecimento de uma noite se aurora.
Permaneço equidistante do tumulto. Ergo minha caneta e começo a relatar tudo que vi e ouvi de Jamile e das outras criaturas da noite. Amanhã mais uma denúncia sobre uma mulher assassinada fará parte das capas e editoriais do país. E depois... a vida continuará para todos... menos para o corpo frio e sem aurora de Jamile.

Preciso de mais um café preto.
        

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