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domingo, 30 de setembro de 2018

Encostas flamejantes


Cabelos teus são como laços
Ao prender-me no embaraço
Aromático das noites e nos braços
Calientes dos dias de carnaval.

Rogo a ti para que cedas teu aval
Às súplicas que tanto derramo; clamo
No mais alto de tua montanha, reclamo
E proclamo publicamente o quanto amo

Morrer no êxtase abismal de tua altura.
Atiro-me quantas vezes preciso for na soltura
De teus desejos; nas encostas flamejantes

De tua epiderme. Lanço-me deveras pujante
A cada ordem dada por teu querer lascivo,
Alforriando em ti libidinoso gozo e assertivo.

AdrianoRockSilva
30-09-18  23h50min

Amor de Hera


Quem me dera ouvir novamente
Todos os sons que sabes emitir.
Quem me dera a reprise do elixir
Labial que outrora sucintamente

Deitasse em meu ser. O querer
É sempre impulsionador; faz crer
O que não mais cria; faz reviver
O que não renascia. E o ser

Buscado, divino e sublime se torna,
Uma vez que o amor alheio o orna,
Como a uma sacra imagem; miragem

No deserto; gota oceânica na margem
Seca de um sertão árido. Quem me dera
A mim tua doce voz dizendo sim, deusa Hera.

AdrianoRockSilva
30-09-18  23h22min

Dulcinéia de Toboso


Homenagem ao imortal Dom Quixote e sua amada Dulcinéia

O que há de saudade em tua imagem
que o cair do dia me traz? O sopro das
últimas horas me faz relembrar a timidez
inicial dentro das retinas; o gélido das mãos;
o mais do sentir; o mais...
O que há de teu que traga minh’alma e desnorteia
meu Norte? Labirinto curvilíneo onde farei morada
no mais extremo vigor de Vênus.
Oh! Nascida de Afrodite, dizeis e cantais tuas trovas,
assim como fizestes a Ulisses;
tragai-me! Tragai-me
ao teu profundo oceano.
O que há de ser quando não mais respirares
dentro de meus braços?
Oh! Saudade, levai-me, levai-me
até onde haja apenas
o som do silencioso suspiro de minha doce Dulcinéia de Toboso.

AdrianoRockSilva
22-09-18 23h08min 

domingo, 16 de setembro de 2018

Versos de domingo


Deitaram-se as estrelas cintilantes
num repouso silencioso,
para que o riso solar abrisse seus braços
nos convidando a sentir seu calor vital.

AdrianoRockSilva
16-09-18  06h07min

Queimando


Quando os acordes da alvorada raiarem
No firmamento, será tempo de ouvir o que
A luminosidade cintilante ecoa há tempos
E tempos. Ergamos nossas mãos e dobremos

Nossos joelhos, quando o retinir do sino celestial
Dobrar a nossa procura. Quando a voz emergir
Cantando e espalhando as boas novas, será tempo

De limparmos nossos ouvidos e mentes. Ao longe,
Ao longe, ao mais dentro de nossa alma queimará
Toda perfídia, abrasando dentro do sonho purificador.

AdrianoRockSilva
16-09-18  00h00min

O ser e a tela


Teima o ser em não aceitar o traçado das linhas
Em suas calejadas mãos. E todos os caminhos
Desaguam na saída mais íngreme. Morro acima
E força nas mãos, pois a subida é teste de vida.

Teima o ser em pintar sobre telas suas cores
Cinzentas e num dia de chuva atira todas as
Impressões sobre o tecido esticado. Camadas
Infinitas de espinhos e rosas; aromas e odores

Ali, diante do atento olhar de quem o espiona.
Ouve-se o cantar das aves, anunciando o cessar
Das águas celestiais; eis que uma fresta do próprio

Apolo clareia e aquece a face da musa representada
Na tela. Dilata-se o riso antes contido; expandem-se
Os olhares; e o ser cede a sede do sabor que o excede.

AdrianoRockSilva
15-09-18 22h36min

Doces braços de vó


Homenagem a minha amada bisavó

A forma do poema disforma o pensamento,
Limitando todas as possibilidades de expansão.
Deitemos a pena e os neurônios malfadados
Na esteira de palha espalhada no chão

Frio de uma casa de taipa. Ainda ouço o
Dizer de minha bisavó e toda sua sapiência.
Bons tempos são sempre os pretéritos; aromas
De carinho e cuscuz à mesa. Ainda ouço o

Falatório de tios e primos e os animais ao
Redor da casa grande. O som da água fria
Tocando o chão do terreiro; a poeira levantando

E entrando por nossas narinas primaveris.
Bons tempos são os pretéritos... bons e só.
Bons dias e boas tardes nos doces braços de vó.

AdrianoRockSilva
15-09-18  21h:32min

O brado da independência


O poeta não é um mandador de recados.
O que lhe vem na telha é dito sem nó
E sem atados. Ele mesmo é seu código,
Seu alfabeto e seu signo. Ademais, que

Façam seus julgamentos e conclusões.
O poeta não se baseia no pensamento
Alheio; que lhe reneguem e o atirem
Ao ostracismo midiático. Por hora

O poeta se refestela apenas com sua
Tinta digital e seu papel made in Microsoft.
Viver nos dias atuais é como atuar, fazer

Parte de uma tragédia sem roteiro; uma
Película sem Almodóvar; um divã sem
Freud. Ah, poeta, branda teu brado sem eco.

AdrianoRockSilva
09-09-18   22h:37min


Prosa e Poesia


A poesia lisa, desliza escorregadia e solta
Nas areias da ampulheta cósmica; noutra
Face corre a toque de linhas e frases a prosa
Densa e rosa, feito trem no horário; itinerário

Lotado de pernas e braços e cabelos às mechas
Ou embaraços capilares. E assim, a vida
Escorre pelas vias e avenidas citadinas,
Tropeçando a cada semáforo intermitente.

Poesia e prosa são como irmãs que mesmo
Unidas por laços sanguíneos, divergem
Cotidianamente, como o raiar do sol,

Lutando para não deitar-se ao final do dia.
Tão belas quanto díspares; desejo-as
Sempre formosas e belas: prosa e poesia.

AdrianoRockSilva
09-09-18  22h:53min