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segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Muro do pudor

Muro do pudor


Pulei muro teu e avistei recônditos
Segredos. Desejos contidos e retidos
Em tuas retinas, narinas oníricas, insanidades
Que as mantinha a sete chaves.

Destranquei tuas grades, fluí tuas ânsias
E tremores carnais. Oh! musa interna,
À luz de minhas verdades a trousse,
Carnalmente Gioconda, busto, olhos

Gruta, gracejos, gotejos em nós.
Saltei por cima dos pudores e
Avistei em febril ardência:

Busto, regaço, colo, braços e abraços
A buscar-me com tamanho afinco,
Ardor de amor; em nós firmou seus laços.


Penélope SS

12-10-15  16h:25   

Fast poem

Fast poem


Caiu
Deixou-se levar
Por outros passos
Pegadas díspares.

Caiu
Queixou-se
Xingou
Ergue-se
Limpou-se
Seguiu.


Penélope SS

12-10-15  15h:53 

Soneto atabalhoado

Soneto atabalhoado


Foram caindo, aos montes e às pressas
Todas as palavras saindo sem permissão.
Fixaram-se onde pudessem as ver. Omissão
Minha que não as detive; descuido. Promessa

Fiz para não mais deixá-las tão à vontade,
Todavia improvável é manter palavra dada,
Já que segurá-las não se pôde. Maldade,
Ingenuidade de tolo crer na obstrução do pensar.

Aos pulos e risonhas, desdenham do meu penar
Unem-se ao redor de mim, feito ciranda; balada
Já é em folha minha, serpenteando, girando,

Girando e correndo e correndo, e traquinagens
Aos montes. Cedi, pois sim, e assim trégua
Firmamos, pondo final, descanso, limite e régua.


Penélope SS

12-10-15  15h:42

A cantante de noite

A cantante de noite

A Karla P


Eu vivo na noite,
nos palcos dessa cidade espalho meus gritos e sussurros.
Conto histórias, invento memórias.
Nas noites mais frias, aqueço minh’alma,
transpiro meu corpo, saltando, suando, vivendo e morrendo
nesse imenso palco iluminado, o qual chamam de vida.
Eu morro durante o dia,
guardo-me e recolho minhas forças para as horas mais noturnas que virão.
O sol que saia e procure por outros,
pois o calor do meu corpo vem das estrelas e da lua,
que cheia me abraça, enlaça minha existência soturna.

Escura a noite na qual me lanço em seus braços;
Agarrando-me com afinco a ti, enlaço meu laço em teu abraço;
Firme me tomas e me jogas aos encantos teus;
E me vou, sempre irei ao encontro de teu chamado, amada noite, deus
De meu Olimpo, clara ideia de eterna,
a prata de tua cor fascinou minhas retinas,
fazendo-me menina solta em teus zunidos,
zumbidos, alegres e cantantes, óperas de meus tablados,
amantes, amados, finados e findos os espetáculos que ministro.
Eu vivo na noite,
sou dela como ao prisioneiro a cela,
e me faço culpada, para sempre retornar,
e em teus cuidados ter parada.


Penélope SS

20-9-15   22h:36    

Teoria e prática

Teoria e prática

A Karla P


Saí da teoria e agora me vejo prática,
antagonicamente estática nas ideias e ideais.
Me fiz mutante, relutante nas convicções
que ainda carrego em mim.
Sou toda ímpar, transeunte, passante nesse caminho maçante.
Abandonei, por fim, as regras enfadonhas.
Tristes certezas dos empolados de plantão,
com suas regras e ternos, e seus conselhos maternos.
Saia de mim a matemática urbana das construções
e seus catetos empoeirados, amassados pelas mãos dos rebeldes.
Eca pra física que complica meu tempo.
Deixem-me olhar o dia, seus raios e nuvens, meu sol e chuva forte.
Atravessei a rua e me vi distante das dores e odores dos inúteis.
Relutância minha, essa tentativa de fuga.
Corro e corro, cada vez mais e mais, sentindo-me ofegante,
arfante e inconstante.
Hora agora de ir embora e em boa hora me visto,
bato a porta e sem me despedir caminho pelo caminho só,
olhos fixos na luz noturna e fria.
Saio daqui e desse palco me despeço,
grata pelos gritos e flores;
Cantar é ser o ser mais desejado por outros
Cantar é se doar a quem não conhecemos
Cantar é ir até a outra margem dos sonhos e
de repente, não mais que de repente, voltar.


Penélope SS

11-10-15    21h:11

Delírios sob o sol

Delírios sob o sol

A Karla P


Aperto o passo,
é hora de seguir em frente mais uma vez.
Quem diria que as coisas seguiriam dessa forma.
Aperto o cinto e piso fundo,
enquanto o vento bate em meu rosto.
Quem diria que a estrada estaria vazia.
Destino incerto é o que se tem de mais certo.
A final a vida não entrega roteiro, é feita assim, no vai-e-vem.
Abro os olhos, é dia de sol forte e tempo aberto e claro.
Secarei minhas roupas, enquanto sigo pela estrada escaldante.
Graus infernais, a pino, digno de Dante e suas memórias.
Aperto o passo e piso firme, montanha acima, tropeçando e seguindo,
removo as pedras drummondianas que a poesia jogou.
Lanterna na mão e o céu como Norte,
andarei por entre galhos e folhas e relvas e selvas
até que chegue onde desejo estar.


Penélope SS

11-10-15   22h:53

Soneto do esquecimento

Soneto do esquecimento

Dedicado à minha irmã Celene Alves


Deixei o que passado ficou, atrás
De mim apenas as flores. Ademais,
Necessário somente é o aroma e não
Toque. Lembranças findo amor, em vão

Trazem teu olhar, mareado e agridoce.
Deixei o que de nós era para hoje
Andar limitadamente só e ermo.
Atrás o ontem, o pretérito, o termo

Já não se faz importante. Diante
Das mãos soltas, olhar vago, afago
De despedida, bastante um cigarro

Entre os dedos e amargo café.
Diante do adeus, as ondas da maré
Ao levar e trazer amores, dores e fé.


Penélope SS

11-10-15  23h:35 

Soneto à bela dama: Noite

Soneto à bela dama: Noite

A Bela dama: Noite


Confesso que amo as horas mais calmas
Da noite. Quando mais puro é o som e minh’alma
Se deleita com o vagar do silêncio. Clareiam-me
As ideias, à medida em que os demais silenciam

Suas vozes. Inteiro comigo mesmo, faço-me,
Despejando anseios diários, imaginários que margeiam
O que em mim é ser. Confesso a ti que a bela
Noite serve-me de refúgio ao passo que cela

É meu dia, com seus rumores, estampidos
E passos largos, cansando-me ouvidos
E pensamentos. Se gostais do claro

Está claro que o terás, pois a mim raro
É vontade de ver Apolo majestoso.
Quero antes a bela dama com calma e gozo.


Penélope SS

12-10-15  00h:25