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segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Muro do pudor

Muro do pudor


Pulei muro teu e avistei recônditos
Segredos. Desejos contidos e retidos
Em tuas retinas, narinas oníricas, insanidades
Que as mantinha a sete chaves.

Destranquei tuas grades, fluí tuas ânsias
E tremores carnais. Oh! musa interna,
À luz de minhas verdades a trousse,
Carnalmente Gioconda, busto, olhos

Gruta, gracejos, gotejos em nós.
Saltei por cima dos pudores e
Avistei em febril ardência:

Busto, regaço, colo, braços e abraços
A buscar-me com tamanho afinco,
Ardor de amor; em nós firmou seus laços.


Penélope SS

12-10-15  16h:25   

Fast poem

Fast poem


Caiu
Deixou-se levar
Por outros passos
Pegadas díspares.

Caiu
Queixou-se
Xingou
Ergue-se
Limpou-se
Seguiu.


Penélope SS

12-10-15  15h:53 

Soneto atabalhoado

Soneto atabalhoado


Foram caindo, aos montes e às pressas
Todas as palavras saindo sem permissão.
Fixaram-se onde pudessem as ver. Omissão
Minha que não as detive; descuido. Promessa

Fiz para não mais deixá-las tão à vontade,
Todavia improvável é manter palavra dada,
Já que segurá-las não se pôde. Maldade,
Ingenuidade de tolo crer na obstrução do pensar.

Aos pulos e risonhas, desdenham do meu penar
Unem-se ao redor de mim, feito ciranda; balada
Já é em folha minha, serpenteando, girando,

Girando e correndo e correndo, e traquinagens
Aos montes. Cedi, pois sim, e assim trégua
Firmamos, pondo final, descanso, limite e régua.


Penélope SS

12-10-15  15h:42

A cantante de noite

A cantante de noite

A Karla P


Eu vivo na noite,
nos palcos dessa cidade espalho meus gritos e sussurros.
Conto histórias, invento memórias.
Nas noites mais frias, aqueço minh’alma,
transpiro meu corpo, saltando, suando, vivendo e morrendo
nesse imenso palco iluminado, o qual chamam de vida.
Eu morro durante o dia,
guardo-me e recolho minhas forças para as horas mais noturnas que virão.
O sol que saia e procure por outros,
pois o calor do meu corpo vem das estrelas e da lua,
que cheia me abraça, enlaça minha existência soturna.

Escura a noite na qual me lanço em seus braços;
Agarrando-me com afinco a ti, enlaço meu laço em teu abraço;
Firme me tomas e me jogas aos encantos teus;
E me vou, sempre irei ao encontro de teu chamado, amada noite, deus
De meu Olimpo, clara ideia de eterna,
a prata de tua cor fascinou minhas retinas,
fazendo-me menina solta em teus zunidos,
zumbidos, alegres e cantantes, óperas de meus tablados,
amantes, amados, finados e findos os espetáculos que ministro.
Eu vivo na noite,
sou dela como ao prisioneiro a cela,
e me faço culpada, para sempre retornar,
e em teus cuidados ter parada.


Penélope SS

20-9-15   22h:36    

Teoria e prática

Teoria e prática

A Karla P


Saí da teoria e agora me vejo prática,
antagonicamente estática nas ideias e ideais.
Me fiz mutante, relutante nas convicções
que ainda carrego em mim.
Sou toda ímpar, transeunte, passante nesse caminho maçante.
Abandonei, por fim, as regras enfadonhas.
Tristes certezas dos empolados de plantão,
com suas regras e ternos, e seus conselhos maternos.
Saia de mim a matemática urbana das construções
e seus catetos empoeirados, amassados pelas mãos dos rebeldes.
Eca pra física que complica meu tempo.
Deixem-me olhar o dia, seus raios e nuvens, meu sol e chuva forte.
Atravessei a rua e me vi distante das dores e odores dos inúteis.
Relutância minha, essa tentativa de fuga.
Corro e corro, cada vez mais e mais, sentindo-me ofegante,
arfante e inconstante.
Hora agora de ir embora e em boa hora me visto,
bato a porta e sem me despedir caminho pelo caminho só,
olhos fixos na luz noturna e fria.
Saio daqui e desse palco me despeço,
grata pelos gritos e flores;
Cantar é ser o ser mais desejado por outros
Cantar é se doar a quem não conhecemos
Cantar é ir até a outra margem dos sonhos e
de repente, não mais que de repente, voltar.


Penélope SS

11-10-15    21h:11

Delírios sob o sol

Delírios sob o sol

A Karla P


Aperto o passo,
é hora de seguir em frente mais uma vez.
Quem diria que as coisas seguiriam dessa forma.
Aperto o cinto e piso fundo,
enquanto o vento bate em meu rosto.
Quem diria que a estrada estaria vazia.
Destino incerto é o que se tem de mais certo.
A final a vida não entrega roteiro, é feita assim, no vai-e-vem.
Abro os olhos, é dia de sol forte e tempo aberto e claro.
Secarei minhas roupas, enquanto sigo pela estrada escaldante.
Graus infernais, a pino, digno de Dante e suas memórias.
Aperto o passo e piso firme, montanha acima, tropeçando e seguindo,
removo as pedras drummondianas que a poesia jogou.
Lanterna na mão e o céu como Norte,
andarei por entre galhos e folhas e relvas e selvas
até que chegue onde desejo estar.


Penélope SS

11-10-15   22h:53

Soneto do esquecimento

Soneto do esquecimento

Dedicado à minha irmã Celene Alves


Deixei o que passado ficou, atrás
De mim apenas as flores. Ademais,
Necessário somente é o aroma e não
Toque. Lembranças findo amor, em vão

Trazem teu olhar, mareado e agridoce.
Deixei o que de nós era para hoje
Andar limitadamente só e ermo.
Atrás o ontem, o pretérito, o termo

Já não se faz importante. Diante
Das mãos soltas, olhar vago, afago
De despedida, bastante um cigarro

Entre os dedos e amargo café.
Diante do adeus, as ondas da maré
Ao levar e trazer amores, dores e fé.


Penélope SS

11-10-15  23h:35 

Soneto à bela dama: Noite

Soneto à bela dama: Noite

A Bela dama: Noite


Confesso que amo as horas mais calmas
Da noite. Quando mais puro é o som e minh’alma
Se deleita com o vagar do silêncio. Clareiam-me
As ideias, à medida em que os demais silenciam

Suas vozes. Inteiro comigo mesmo, faço-me,
Despejando anseios diários, imaginários que margeiam
O que em mim é ser. Confesso a ti que a bela
Noite serve-me de refúgio ao passo que cela

É meu dia, com seus rumores, estampidos
E passos largos, cansando-me ouvidos
E pensamentos. Se gostais do claro

Está claro que o terás, pois a mim raro
É vontade de ver Apolo majestoso.
Quero antes a bela dama com calma e gozo.


Penélope SS

12-10-15  00h:25

sábado, 5 de setembro de 2015

Eu giro o mundo na busca de ser

Eu giro o mundo na busca de ser

A Karla Pinheiro


Eu tenho pressa e o corpo clama,
reclama e inflama.
Ímpetos de juventude, gritaria solta e bandeiras nas mãos;
eu vivo nas horas, me equilibrando entre as muitas vozes,
chamados insanos na busca de meus acenos,
fãs de minhas loucuras,
postura de deusa, sou grega, romana e egípcia;
sou Hera na terra em que piso, nesse palco, me faço livre,
arbítrio inteiro ao meu lado.

Eu tenho pressa de sentir
e as sensações de rodeiam, permeiam,
pensamentos libertinos, hinos dos amantes à solta;
sou loba na pele de loba,
e nada tenho a camuflar minhas decisões.
Guardo em mim todas os seres outros,
corações que amei, afagos de mil sabores,
carícias de todos os odores.

Eu tenho pressa de mim
Enfim, correr na contramão
Do sim,
Chegar na frente, peito latente
Gritando não.

Eu tenho urgência do sonho
Vida que não basta
Mundo sem graça, enfadonho.

Eu tenho pressa de mim
Enfim, correr na contramão
Do sim,
Chegar na frente, peito latente
Gritando não.

Eu tenho urgência do sonho
Vida que não basta
Mundo sem graça, enfadonho.


Penélope SS

5-9-15   22h:19    

Febre

Febre

A Karla Pinheiro


E a febre louca, insana, me toma as rédeas,
Me engana. E aqui, na torpe loucura de meus delírios
Me vejo às escuras, quarto fechado, tempo aberto
Aos devaneios.
E o corpo todo ainda suporta meus ais, meus sais,
minha quimera desesperadora.
Árdua tarde que teima em manter-se longa
Árdua garganta que não me deixa gritar
Árduo ardor de dor e suor e imagens,
fantasmas ao meu lado e por todos os cômodos.

Incômodo dia, noite de solidão.

Teimo, em meio a tudo que gira,
A não ceder espaço ao cansaço
E nem criar lamúrias, agruras
Internas e profundas.
Quero mais o salto, o risco e o precipício
Mais o samba que a valsa
Mais o bamba que a balsa
Mais o carnal, carnaval

Remediavelmente livro-me das dores
e as cinzentas cores se dissipam feito nuvens,
levando consigo todos os motivos encobertos de minhas amolações.

Livrei-me do caos e do mal pungente,
latente, que havia, por hora, tornado
meu eu em pleno desgaste.   


Penélope SS

4-9-15   23h:09

Poema canção para menina sonhadora

Poema canção para menina sonhadora

A Karla Pinheiro


Soltei minha voz, aos quatro cantos me fiz ressoar.
Sonidos, notas graves, palavras rimadas e bateria ecoando na cozinha.
Dei meu recado, ao meu jeito,
meio desajeitada, meio desgrenhada, assim ao meu modo
Sendo aquela garota que nunca deixei de ser.
Microfone na mão, pensamento leve e sentimentos aflorados:

Canto o canto que me vem de todos os cantos;
Canto Caetano, Renato, Cazuza e suas musas
Canto todas as musas, as levo pro canto,
mostro meu encanto, dom de dona,
mandona, Madona do que é meu.

Soltei minha voz,
me fiz vista e avistei o futuro por cima do muro de Lulu.
Djavaniei minhas melancolias,
folias de quem ainda não está pronta,
irreverência de menina,
amar é dizer te amo apenas com os olhos
e os meus desnudam tua beleza a cada instante que te vejo.

Ansiei estar exatamente aqui, com meus pés livres
Correndo e percorrendo ruas, capital de mar azul
Queridinha dos mares, sereia dos sonhos meus, blue
Sky, alturas mil, Brasil, Brasil, aquarela de Vinícius, anil
De meu arco, íris de tuas retinas.

Soltei minha voz,
me fiz vista e avistei o futuro por cima do muro de Lulu.
Djavaniei minhas melancolias,
folias de quem ainda não está pronta,
irreverência de menina,
amar é dizer te amo apenas com os olhos
e os meus desnudam tua beleza a cada instante que te vejo.

Soltei-me no mundo e voltar não mais irei
Soltei-me na estrada que escolhi, determinei
Minha jornada, caminhada árdua que em nada
Me assusta. Aprendi a dizer sim quando a vida
Me diz não; hoje me soltei,
amarras nenhuma me levam ao que já deixei pra trás.


Penélope SS

31-8-15   23h:56

Conjugação verbal

Conjugação verbal


Dizia-me a moça ao lado:
- Acalma-te o ímpeto;
Sigamos o fluxo.

Nesse vilarejo, em se plantando tudo dá,
desde que não esqueças minha porcentagem.

Dizia-me a voz no rádio:
- Acalma-te a caneta;
pois bem sabeis que em terra de Pau-Brasil

Propino eu
Propinas tu
Propina ele
Propinamos nós
Propinais vós
Propinam eles.

Finda a aula de conjugação,
Passemos aos autos, meritíssimo.


Penélope SS

30-8-15  00h:23

Caravelas e aquedutos

Caravelas e aquedutos


Em terra de Cabral, onde espelho é ouro;
Religião é roupa e estuprar é amar;
Ditado primeiro, cantado, faceiro
Em prosa e verso, vindo lá, de além-mar:
- Propinar e negar, é só começar.


Penélope SS

30-8-15   00h:05

Poesia Oswald de Andrade Ou plágio precário

Poesia Oswald de Andrade
Ou plágio precário


Conversam desconhecidos
Amigos na fila do pão:

Aos sabores dos postos, impostos
E dos sobre-postos, das leguminosas
E frutíferas propinas televisivas,
Seguimos a passos largos, rumo
Aos dessabores dos boletos, intermináveis
Coletas, cofres sem chave, fome sem dieta,
Que não cala e nem cessa.

Votar ou não votar, eis a questão...
Triste dilema, quente e doce pão...


Penélope SS

29-8-15   23h:45   

Dia novo

Dia novo

À Jennifer Yamashita, por mais uma data especial


Nascente as estrelas quando findo meu dia
E volto, casulo meu, fortaleza de minhas entranhas,
A me recolher e a aguardar por mais alguns meses
Até que me seja posta mais uma pedra sobre meus ombros.

Aqui, canto de meu estar, onde recôndito guardo lágrimas
E soluços. Alegrias, poucas, firmes ainda em minhas mãos;
Fiz-me de um jeito tão singular que meus ais são inconstantes,
Inerentes a meu ser, por demais gnomo, misteriosamente estelar.

Nascente o dia em que me fiz altiva e viva; e viva aos meus longos
Devaneios, anseios e rodeios por campos minados e cercados e
Empolados de seres, prazeres em existir, tão somente.

Novo dia
Magia de novo som
Encanto, agruras, dom.

Novo ser
Completo de mim
Poeira celeste, montanhosa, enfim:

Nascestes, artesanalmente
Sol de um dia
Em que nascia
No cosmos tão imenso
Vaga estrela, na beira
Do universo,
Feito verso
Alto e montanhoso
Nas costas, dorso
De um deus:
Nasci: EU.


Penélope SS

29-6-15   23h:33

sábado, 13 de junho de 2015

Quimera maceioense

Quimera maceioense


Caminha pela erma lua,
Chutando suas latas, rua a rua,
Ela que nada mais sabe sobre como ser livre.
Porém, ademais de todo duvidar, querer gritar
Aos demais e tais, não o faz por desejar
Não acordar quem em sonho, assim como
Ela, está.


Penélope SS

9-6-15   16h:27

Jardim suspenso

Jardim suspenso


Abriu-se uma fresta e fui por
Onde meus pensamentos de dor
E cura me impuseram. Firme, cor
De cinza em minhas loucuras

Mas segui e quis segui. Assim
Somos, nesse imenso lar azul
Rodeados de céus e terras. Eras
Tu tão cor de mar que embriagavas-me

Em tua espuma. Ressaca doce, em fim.
Abriste-me teus braços e abraço teu, beautiful.
Abriu-se aqui uma fresta de sol, e minhas heras

Expus, jardim ermo que zelo com afinco e apuro.      
Lhe digo, nobre outro, que ver se ir é mais duro
Que não querer mais estar: plantas, lábios e fim.


Penélope SS

9-6-15   16h:09

Red

Red


Havendo dores?
Que haja, que dilacerem entranhas e glóbulos,
todos os caminhos que levam ao sofrido coração.
Havendo dores?
Que haja rios e mares
Que haja purificação no fim de todo penar.

Rio minhas agruras e amarguras
Por entre ruas e brumas
E pontes que me transferem do fosco ao red.

Quem disse que aqui estou?
Há horas distantes durante o duro do dia;
Há versos que vareiam e varrem o vislumbre
Dos meus pequenos olhos tristes.

Acinzentei-me
Contrastei-me
Tornei-me lente
Calmamente
Pacientemente

Deitei-me e aguardei o fim da neblina;
Refleti enquanto fora do meu refúgio
Se debatiam os sábios e incultos.

Findo est


Penélope SS

8-6-15   00h:07

Outside

Outside


Do outro de mim há magias
as quais você ainda não se apercebeu.
Guardo todo encantamento juvenil
todavia transpiro minha força, ira e determinação,
quando necessito.
Transpasse minha fortaleza
e saberás do que realmente sou capaz.
Miro o que me agrada e foco minhas frases
e voz e lente e pensamentos em cada objeto de meu desejo.

Atravesse-me,
erga sua Roma e torne-me
infinitamente gigante como Alexandre.

Minhas paredes selam meu reino.
Minhas tintas colorem meu império em preto e branco.
Minhas ranhuras tatuam-me feito Gladiador.

Do outro lado de meus olhos há tristezas e sal
Feito Tejo, Nilo e Amazonas.
Do outro lado do meu cheiro há odores de dor
E amor a quem me decifrar.
Do outro lado de mim,
que rio sou,
há margem límpida e doce.

Apontar-te-ei o caminho
Sigais e saberás do que sou feita.


Penélope SS

7-6-15  22h:41

Louco

Louco


Swingo no som do sopro,
vento que do norte vem.
Louco soprano, voz de trovão
e tempestade de notas:
todos os sons converto em alegrias.

Guitarras ensurdecedoras,
luzes noturnas e suores nos lábios;
beijos e cordas,
e alto-falantes a gritar urros de prazer.

Swingo onde me permitem mais intenso.
Faço-me astro e ilumino tua celeste
e encantadora maravilha.
Entendas o que digo, pois explicar-te não irei.
Far-me-ei de tolo, enquanto me olhas;


Penélope SS

7-6-15   22h:06

Quarto vivo

Quarto vivo


Brilha todo azulejo,
e descrevo minha ânsia
Dentro desse quarto,
onde repouso meus quadros
E minhas madeixas;
Brilha a brancura alva,
enquanto remexo ideias vagantes;
Deixei cair alguns sonhos,
e rapidamente me pus a sonhar outros.

Aqui, nesse mesmo quarto, onde brilham as pedras,
me recolho
Encolho e me aqueço.

Deixei soar algumas frases;
Deixei escapar algumas fraquezas;
Fi-lo porque qui-lo
E eis que me ergo
Me reparo

Encaro o brilho marmóreo
E pedra a pedra, fortaleza minha reconstruo:
Alta, na mais alta montanha.

Entendo-me, deito-me e protejo-me em meu brilho
Próprio.


Penélope SS

1-6-15  23h:47

Amplamente EU

Amplamente EU


Minha poeira é minha casa.
Nela canso, descanso e me refaço
Clara e ampla, esguia e imperial
Firme, mantenho certo meu traço
Faço de minh’alma inquebrável aço.

Eu, assim, na iminência de tudo que venha
Mantendo armas apostos;
Olhos atentos e sentidos vivos.

Eu, assim, interligada com minha existência
Tão sóbria e onisciente.
Eu, mirando todas as possibilidades.


Penélope SS

1-6-15  23h:19

Encaracolei-me

Encaracolei-me 


Encaracolei-me nessa teia só minha
Aqui tenho todo alimento e sou rainha
Do que digo, penso e faço. Querido, tarde
Já é, e as luzes apagam-se, enquanto arde,

Uma a uma, todas as memórias de um dia
Chuvoso. Águas rolam, límpidas, frias
Morro abaixo; cerra acima. Vento, nuvens,

E as telhas cantam, assoviam a palavra EU.
Abrir a janela, me parece a melhor escolha.
Deixar Alice ir-se; casulo partido e larva

Convertida em beleza: borboleta real
Quantas cores tenho em minhas asas majestosas?
Quantas flores serão minhas amantes, neste jardim?


Penélope SS

01-6-15  22h:59 

Mãos, cabelos e pensamentos

Mãos, cabelos e pensamentos

À artista Jennifer Yamashita

Cansei-me de todas as vozes e gestos e sons.
Temporariamente quero ouvir-me.
Sentir o que de mais galáctico há e se move em mim.
Tocar-me, toda minha essência expelida.

Cansei-me das alegrias temporárias, casualmente extasiantes.
As ideias que trago em minhas madeixas,
tornam-me, injustificadamente, única.
Ser daqui e de lá;
espacialmente ampla: Regai-me cosmos.

Cansei-me dos outros; carnes e ossos.
Brilho? Alguns.... Apenas.

Ainda desejo a amplitude espacial;
ser, inteiramente, livre e unida aos anéis de Saturno.
Ainda miro o céu dos meus dias;
Ainda conto as incontáveis estrelas;
Ainda desenho na areia a face enigmática do celeste.
Ainda me sinto viva: Atmosfericamente star.


Penélope SS

29-5-15 23h:59

domingo, 24 de maio de 2015

Olhos

Avistei, bem ao longe, olhos intensos
Imensos como o infinito. Suspirei e sei
Agora o que se chama beleza. Tanto errei
Ao procurar em outras ruas teu endereço.

Tanto me cansei; tanto pequei jurando
Estar em outrem o que apenas há no imenso
Mirar de tuas órbitas. Aqui, tão perto, mirando
Imagem tua, me deparo com a certeza, clareza

De chegar ao fim busca minha. Sentarei aqui
E permanecerei incólume, ao lado teu, enfim
Chegada é a hora dos lábios dizerem sim.

Enfim, unamos nosso desejar porque amar
Por Eros e Vênus nos foi permitido: amar
O quanto nos é lícito, gracioso e eterno: amar.


Penélope SS

3-5-15  23h:36       

Tua pele

Caminhei sobre ti durante horas a fio
E em cada entranha fixei-me como navio
Em águas virgens, calculando passos
Abraços e afagos a mil. Em ti caço

O que em mim há metade: desejo e laço,
Maço de abraços em braços bravios,
Impulsivos e lascivos. Desejei-te ardente,
Flamejante ímpeto, feito fiel e crente

Servo de tua pessoa. Musa de olhar esguio
Tão minha, tão leve e entregue, firme aço
Ao transpassá-la no afinco gozo da dor.

Caminhei sobre tua epiderme e me fiz carne
Única junto a teu suor: caminhos, estradas, túneis.
Eis definição de sentir, tu, beleza dos mares: amor.


Penélope SS

3-5-15  23h:16

Tu, minha página

Deixei a página em branco, até meus
Pensamentos formarem tua visão.
Desde então, fixei-me na doce-ilusão
Dos teus gemidos. Ungido por teus

Lábios, purifiquei-me, tornando-me são
E casto. Religiosamente, aguardo seus
Tremores, odores florais, virginais. E eu
A guiar-te, meticulosamente a tocar-te. Não

Me permitam os deuses, distanciar-me de calor
Tão intenso, fogaréu diário que a vênus peço.
Oh! Gozo de Baco; vinhos e vinhedos, sabor

Teu a me embriagar os sentidos. Caído, enfim, meço
O imensurável amor a ti desferido, enquanto rezo
Aos céus por teus ais em meus ouvidos: existes amor?


Penélope SS

1-5-15   15h:56

Livro

Assim escreverei meus dias e noites,
Solitariamente, eu e minhas tintas
No silêncio noturno das horas; acoites
Internos entre meus suspiros. Acreditas

Tu em minhas palavras? Enquanto ouves
Meus sonidos e lamentos; todas as listas
Deferidas, de meus improváveis temores,
Em folhas claras, raras equações, vista

Enfadonha. Dias, anos a fio, nessa labuta
Minha, desgastando meu ser a despeito
De musa ingrata e insana. Inglória luta,

Te digo e repito. Dia de findo penar meu peito  
Anseia; minh’alma exige tal trégua. Curta
É toda vida nesse penar de sermos errôneos e sem jeito.


Penélope SS
1-5-15  15h:30   

Dureza é ser

Sinto-me caminhando nesse caminho
Torto e sem fim; onde piso não faço ninho
Sem teto e sem leito, apenas eu cuidando de mim.
Estrada enviesada, Alice sem magia, poema chinfrim.

Sinto-me, gravitacionalmente falando, zero de zero
Pernas soltas; braços ao vento. Sem apego; nem elo.
Aqui, nesse pedaço de eu, submeto-me a ser honesto
Deixando, tão logo me enfastie, o tédio e todo o resto.

Dureza é ser quando não se permite. Doer dor de outrem
É sangrar gratuitamente, gastando líquido, vertendo
Forças, deixando poças aqui e ali. Moldem

A mim pelo que digo. Escrevo sobre minhas dores; vendo
Minhas palavras a seus caprichos. De ti sigo querendo
Lanterna; luz nesse breu; fagulhas de fé a me iluminarem.


Penélope SS

24-4-15  23h32   

Quente aqui como outrora

Quente é aqui onde estou. Nesse chão
Despejo meu suor, gota a gota. São
Como lágrimas de meu sal;
Como o sofrer de Portugal.

O indo e vindo de suas naus
Oceanos a fora; tormentas, glórias.
Homens ao mar; velas ao vento. Vitórias
À coroa e sangue e ais aos desterrados. Mal

Te digo neste dia infernalmente caliente.
Jogai tuas esperanças em outras índias,
Outras rotas. Bem sabeis tu as perfídias

Que incutistes neste chão de gentis gentes;
Deuses convertidos; fé, roupas e genes.
Onde piso é quente, como de Tupã a ira.


Penélope SS

24-4-15  22h:58

Vida

Homenagem à Jennifer Yamashita

Andei distante, um pouco fora de mim
Meio tristonha, enfadonha, sei lá, assim.
Tão não eu que ser meu reclamava volta,
Gritava meu corpo, minh’alma batia à porta

Exigindo restauração, reparo. Porém, torta,
Seguia por longínquos lares, singrando mares,
Ondas quebrando, rebentando peso. E eis que lares

Diversos acolheram meus ais, estenderam mãos
Firmes, certas, calor de vida, irmandades, irmãos
Que supunha não haver. E hoje, aqui, todos hão

De ver e ouvir meu novo suspiro, respiro vivo,
Pulmões berrantes, coração ativo, olhar altivo.
Distante andei, bem sei, mas agora pulso; a vida revivo.


Penélope SS

20-2-15  23h:27

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Diástole

Diástole


Que chuva a cair em meu telhado.
Gota a gota, molhando e cumprindo seu papel.
Assim, lavando e levando consigo impurezas diversas;
folhas, galhos, restos, sobras, terras.

Que chuva a cair em minha mente.
Gota a gota, me fazendo retroceder;
lembrar fatos e fotos e rostos e lábios e braços e promessas.
Outrora chovia sempre em meus pensamentos,
mas, por hora, apenas goteja;

Que tanto de outrem a chuva me trouxera agora.
Unhas e cabelos; gostos apetitosos.
Que tanto de ti me transborda,
cai de meu ser como as gotas que do teto descem.

Que dizer de tanta amargura;
quando um não quer o outro vira e cala.
Continuemos nossa vida paralelamente às águas;
paguemos nossas contas e deixemos ao Firmamento
a decisão de decidir por onde seguiremos,
após dispersarmos nossos sonhos.

Agora, quão de nós é um e não dois?


Penélope SS

24-1-15   18h:59 

Rua

Rua


Gastou-se a paciência.
Findou-se a tolerância.
Mesmo sem rumo certo,
Seguirei o rumo que meu nariz apontar.

Meus gostos se desgostaram de ti;
Derme, epiderme, couro cabeludo, capilar, cópula incerta.

Gastou-se a decência.
Findou-se a complacência.
Rua, aqui vou eu.


Penélope SS
24-1-15   19h:30


Ando meia jururu

Ando meia jururu

Homenagem


Ando meia jururu. Assim... assim...
Demasiadamente ansiosa por novidades
em meu quarto e em mim.
Ando pelos cantos da casa e
pelos meus próprios cantos.
Recôndita em meu corpo tão meu;
tão complacente (meu corpo) com minhas dores
que já nem o escuto.
Ando meia jururu comigo mesma.
Tão cheia de mim que até chego a discutir
com a imagem que me olha nesse espelho
celestialmente transparente.
Ando meia jururu com minha religião e com meus dogmas.
Mais um pouco, e os mandarei às favas.
Ando e caminho e me sinto assim, ultimamente.
Tropeçando em meus próprios pensamentos,
todos jogados no vão dessa casa imensa chamada eu.
Ando tão meia jururu que começo a falar de mim
como se eu fosse outra; hóspede em minha própria morada.
Ando tão meia jururu que comecei a negar minha voz.
Ando tão meia jururu que de mim mesma já ri
e me fiz promessas de vindouras visitas.
Oh! Sol de cidade lagunar:
quanto de teu sal,
são lágrimas de minhas agruras diárias.
Ando, sim, meia jururu por hoje.
Mas andarei amanhã, por aqui, por ali, por acolá,
Risonha e límpida; ofegantemente gritante
com minha arranhada voz novamente ecoada
aos quatro ou cinco ventos,
usando de minh’arma mais poderosa:
FE-LI-CI-DA-DE.


Penélope SS

3-2-15  23h:11   

Chamam-me Altas Montanhas

Chamam-me Altas Montanhas


À minha parceira literária Jennifer Yamashita


Estranhamente segura-me a cama.
Corpo parado e cansado.
Enfadonha manhã de domingo
aqui em minha existência.
Ouço, ouço, cantos e vozes ao longe.
Pássaros e pessoas a cantar e falar aos seus.
E os parques abrem suas portas.
E as praias convidam seus frequentadores.
E os shoppings ligam seus mortais ares-condicionados.

Estranhamente, convido-me a permanecer quietinha.
Calmo ruído em meus pensamentos.
Dentro do turbilhão que me tornei,
remexo e reviro-me e refaço-me
e repenso-me e respiro fundo.

Janela aberta;
alguém lá fora ainda precisa de mim.
Fujo das dores e arranco todas as camadas inertes
que outrora me acorrentavam.

Viver é preciso;
Ver o sol é preciso;
Caminhar é preciso;
Sentar-me no balanço do parque é preciso;
Respirar novo ar e correr sem rumo é mais que preciso,
se faz necessário.

Acordei de um sonho estranho.
Novos ares e velhos amigos.

My life
My friends
My world  

Eu, ainda mais viva.
Eu, ainda mais intense.
Eu, indestrutivelmente, EU.

Prazer: Altas Montanhas.


Penélope SS

25-1-15  10h:56

Eu e minha Fênix

Eu e minha Fênix

Homenagem a parceira das artes: Jennifer Yamashita


De mim, a ti, confiei o que de mais valioso tinha:
Meu ser, sem ressalvas e sem rédeas. Sem nada
A perder, me fui entregando gota-a-gota (essência minha);
Cobrindo-te com meus risos, mal sabendo de continhas

A perfídia impureza humana. Amar a dois é estar
Constantemente em avaliação; é querer abdicar
De olhares outros, a fim da pessoa amada zelar.
É manter-se firme, complacente no mirar

Amado. Todavia, eis que sem ti me vejo,
E tão leve me sito que, ao te mirar, percebo
O quão de nós era apenas eu. Sem ti ei

De caminhar, passo a passo. Obstinada irei
Além e aquém de tuas amarguras. Antes Rei,
Hoje só; somente a mim restando ocupar-me de viver. 


Penélope SS

5-2-15  22:47

Resposta intuitiva

Resposta intuitiva


Cada passo, exatamente como foi pensado,
Nunca deixa de ser uma escolha (renúncia)
De outra resposta. Pegada que o pesado
Corpo desfere ao chão; imensuravelmente cansado

Dos dias de luta. Vinde a mim, manhãs gloriosas,
E alegrai minhas retinas demasiadamente fatigosas.
Vinde a mim, Alegria. Chegai a quem incansável
Te busca; chegai e tornai leve manhã essa inefável.

Cada não renuncia o contrário da negativa,
Bem como aceitar rejeita outra assertiva
E sigamos na filosofia diária das escolhas.

Hoje, contando meus passos, decidi: colhas
Tu do chão minhas respostas em folhas
Garrafais; letras de meu sangue: resposta intuitiva.


Penélope SS

8-2-15   00h:44

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Bachianas

Bachianas


Ouço Bach e suas Bachianas.
Ouço detalhadamente suas harmonias e harmônicas.
Ouço apreensivamente o alternar dos tons.
Ouço detidamente o deslizar das alternâncias.

Bach não pode ser de um mundo.
Universalmente falando:
todos os seres amam suas Bachianas.

Ouço Bach: Atentamente.
E penso, como Deus nos presenteia divinamente.
Bach é o som Divino aos tímpanos humanos.
É a essência do próprio ser.


Penélope SS

17-1-15   21h:56

Quadrinha da sensualidade

Quadrinha da sensualidade

À Vênus


Pediste-me um gozo, casta musa;
Pediste-me uma fúria. Ora, Vênus doce, minha cara,
bem sabes tu o quanto de mim a ser teu pertence,
se já bastante de ti em meu eu se sente.


Penélope SS

17-1-15   22h:09

Meu reino por uma cabeça

Meu reino por uma cabeça


Não quero entrar em Versalles.
E isso está decidido.
Afinal como poderei governar minha linda França,
se não terei minha cabeça sobre meus ombros.
A França para os franceses e minha cabeça para mim.

Merci


Penélope SS

17-1-15 

Hell

Hell


Hoje ao meio-dia
exatamente às 12 badaladas
senti saudades do inferno de Dante.
Olhei para o céu, enquanto
de meu rosto escorriam gotas de suor.
A comédia é tão Divina quanto o autor.
Os dias aqui nos queimam mais
que os castigos infernais.

Mestre Virgílio! Onde estás que não nos socorre?

Dante! Dante!

Escrevei a Divina Decadência Humana
Somos todos idiotas
Aqui, presos, nesse inferno de meio-dia.


Penélope SS

22-1-15  23h:42

Eu e minha lente

Eu e minha lente


E eu aqui: presa nessa imagem de mim.
Tentando não sair dessa lente.
Aqui me sinto viva; corpo quente,
sem máculas de outrora, enfim:
eu por eu mesma. Aqui.
Ai de mim,
que não paro de me prender nesses quadros.
Eu por eu mesma. Aqui.
Eu que sou meus cabelos e franja;
Eu que sou meus medos e coragem;
Eu que sou meus dentes e sorriso;
Eu: de laço e viço e tudo que
me enfeita e me camufla.
Eu que miro o espelho
à espera de e à espreita do vindouro.
Eu que não sei mais sair sem ser vigiada,
ainda sei fugir e me esconder onde mais gosto:
dentro de mim e da minha lente.
Eu por eu mesma.


Penélope SS

23-1-15  00h:02

Poema moderno

Poema moderno


Concorde comigo quando lhe pedir um doce,
um lábio, uma palavra.
Relutar é perder o que temos de mais precioso: tempo.
Doce-paixão: é tempo de olharmos ao redor de nós.
Doce-lírio que ao longe me fala;
aos ouvidos meus é chegada tua voz,
doce como os anos pueris, primaveris;

Doce como o riso-doce da menina
de olhos vivos e cabelos longos
a dar voltas em meus pensamentos.
Castiga-me a saudade de teu mirar,
enquanto apetecendo fico eu pelos corredores,
gastando voz em vão, pelos vãos vazios
desse imenso lugar tão cheio dos outros.

Concorde comigo quando lhe pedir uma nota,
canção de dois, poema teu e meu.
Torta minha essa sina
de a ti menina
entregar meu pensar
sem mais, nem medida certa.
Torto meu caminho; poeta torto
e solto em teus braços, ao que vier
lábio, palavra, canção de dois,
pequena grande mulher.


Penélope SS

23-1-15  00h:38

sábado, 17 de janeiro de 2015

Serventia

Serventia

Homenagem à poeta das imagens

Não me serve a palavra que pede licença.
Que se cobre de rodeios, sem direção,
nem mira certeira.
Gosto do direto.
Do reto. Do claro e fixo.
A palavra foi feita para ser clara.
Definição de outrem. Quem a lê que a decifre.
De minha parte, sou portador de minhas mal-ditas-linhas.

Não me serve a cara fechada.
Goze primeiro e depois me venha contar suas fantasias.
Poema torto; tortuosamente bêbado;
tropeçando em pedras pontiagudas,
prontas ao bote.

Não me serve a política.
Paletós alinhados e carteiras batidas.
Impostos; impostores e impostômetros.
E, por fim, no fim e ao fim, tomam-nos até nossos centavos.
Tomates aos pobres e ovos aos ladrões.

Não me serve nada.
Por hora quedo-me mudo e incompreendido.
Basta-me silenciar e ouvir meu suspiro,
que ainda não foi privatizado.

Não me serve o não.
Bata a porta e suma.


Penélope SS

17-1-15   21h:41