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sábado, 11 de novembro de 2017

Resenha crítica sobre a obra A Marcha das Efêmeras, de Flor, Priscila

Resenha crítica sobre a obra A Marcha das Efêmeras, de Flor, Priscila
Por Adriano RockSilva
Texto elaborado em 10-11-2017

  
O que leremos a seguir não é um caminho ou um roteiro sobre a obra A Marcha das Efêmeras. Não é minha intenção direcionar aquele ou aquela que está com o livro em suas mãos. O que fiz foi jogar nas próximas linhas todas as inquietações (creio que usarei bastante essa palavra) que me ocorreram durante a leitura da obra referida. Flor, Priscila, nos apresenta, já em sua obra inaugural todas as suas heranças seculares; suas andanças pelas ruas e pelos cheiros e cores das cidades. Mas principalmente, a autora nos leva a uma viagem interna dentro de seus personagens. Fazendo-os vomitar todas as suas mazelas e sentimentos, que às vezes podem ser singelos e por vezes cruéis. Observei todos os dez contos de maneira singular, por isso já advirto que pode haver ou não unidade no que apresentarei. E, confesso, estou bem à vontade em relação a essa questão. De modo que vamos aos fatos; ou aos contos.
Desnudos e vergonhosos. Essas foram as duas palavras que primeiro me vieram à mente após a leitura do conto inicial da obra A Marcha das Efêmeras. Não por acaso esse é o conto que inicia a obra. Aquele que vai na frente, desbravando com suas lâminas o lugar comum, onde o leitor (e aqui me incluo) está acostumado com um início suave, crescente. Engana-se. Bia Rita nos toma de assalto; nos sacode com suas máximas inquietantes. Ou seria uma carta de apresentação da autora? Colocando, desde as primeiras linhas, “Bia Rita, moça que desfilava com hematomas descobertos como medalhões na pele”, suas mangas de fora? Somente Flor, Priscila para nos esclarecer. Se assim desejar. Caso contrário, seguiremos desnudos e o mais... o mais encontre quando folhear suas primeiras páginas. A mim cabe confessar o quão aflito fiquei ao final dessa inebriante narrativa. Então, sejam bem-vindos aos devaneios de A Marcha das Efêmeras e cuidado onde pisam, pois “O mar é uma morte que se balança”.
De tanto tentar uma maneira de apresentar o segundo conto da obra em análise, me vi tentado a entrar no personagem que mais amou Denise. E aqui vamos nós.
Eu não sou Denise. Eu amo Denise. Ou amei. Um tão louco amor que até fiquei sem nome, pois Denise me tomou tudo. Olhos, beijos, carinhos, sono e até meu nome. E o que me restou foi uma passagem de ida para a Suíça. Ah! O amor. Nem sei quantos mil quilômetros são daqui a Suíça. Mas o certo é que antes do findar do dia, estarei nos braços, na boca, na orelha e nos carinhos de Denise.  E seguindo o conselho de Mama Velha: “Vai minha filha, está indo tarde. Que Deus lhe abençoe”. E a isso dei o nome de saudade.
“Conto com sabor de prosa”. Seria para suavizar as retinas e os ânimos de nós leitores, que há pouco nos deparamos com tamanha tsunami chamada Bia Rita? Suspeito que sim. Flor, Priscila não dá ponto sem nó. É detalhista e matreira na arte das letras. Nos ludibria com palavras singelas como “lábios” e “travesseiro”. Ou nos apresenta ao estrangeiro como nos livros do século XVIII. Tudo bem florido e dinâmico. Não; essa não é Flor, Priscila. E até pode ser. Quem sabe?! Quem sabe a prosa dos suspiros não a tenha vencido por alguns instantes e tenha nos proporcionado um momento de floreio, dentro do turbilhão chamado A Marcha das Efêmeras.
A noite dentro da noite nos traz uma flor de aroma doce, “batom roxo” e nome impreciso: Jamile.  Sigamos seu perfume para conhecermos até onde vai sua intensidade. Pensemos em Jamile como uma Macabéa dos nossos tempos. Pensemos na angustiante alegria dessa vivente que sem motivo aparente, ou com todos os motivos, ou somente por distração do destino, foi sugada para o vazio do não-existir, passando de ser a não-ser. Triste sina de uma flor adocicada.
E assim chegamos ao quinto conto.
Sem nome. Chama-se Robinho apenas por alusão a outra pessoa. E o que é melhor: “as palavras a seguir são surreais”. Quando o próprio autor, no caso autora, nos alerta sobre o que virá a seguir é porque mergulharemos em oceanos repletos de Moby Dick. E, por isso mesmo, é que nos atiramos a ele sem medir suas profundezas. Nesse conto, Flor uni com tamanho esmero a sutileza de um garoto comum, como tantos outros de sua rua, as intempéries do destino, que, vez outra, nos sacode com tamanha intensidade ao ponto de precisarmos que o Amor (fato raro em sua obra, ou ao menos o amor como o edificamos) nos arrebate. Não por acaso, esse é um dos mais extensos contos do livro. l'amour a ce pouvoir. Toujours.
“Luciene é moça bonita”. Mas não se iluda, o conto não o é. Quantas Lucienes bonitas se esvaem todos os dias e todas as noites? A resposta a esse questionamento não encontraremos nas páginas literárias. Todavia, incessantemente, devemos buscar o cessar desse feminicídio silencioso que nos envergonha e nos agride a cada nascer e pôr-do-sol.
Em Raul somos convidados, se é que a autora nos deixa escolha, a percorrer a mente e as peripécias que ela prega no personagem. Na busca por ele mesmo e por respostas, Raul nos guia por cada recanto e canto de seu quarto, esmiuçando todas as impressões, cores e aromas presentes ali. Aqui me aposso das três palavras mais significativas que a autora pôs nesse conto para defini-lo com a densidade que ele merece: “agonia, surpresa e alegria”.    
Aparentemente trivial, assim a autora nos introduz aos pensamentos de Val. Ledo engano. De repente, somos arremessados à morte, à perda e à tentativa de largar-se dela. E assim percorremos a trama, na busca pela saída ou coisa que o valha. E, novamente, de repente, como que para troçar com nossa expectativa, Flor nos faz cair do cavalo, trazendo-nos novamente ao trivial cotidiano. E aqui fica meu pequeno alerta aos que se aventurarem no mundo fantástico da Literatura: assim são elaborados os grandes contos, cheios de mescla da realidade com a suposta realidade. Se é que o real realmente existe. Decida por si mesmo.
Há culpa em Amália, por sua beleza e singela morenice? Esse é o questionamento que nos é impelido pela autora (em seu penúltimo conto). Nada ela almejava que não fosse um dia de sol e sua ida e vinda da mercearia com início e fim. Apenas ser Amália. Nada mais. Mas o patrão, e aqui devemos destacar essa palavra, pois a autora não a utiliza em vão ou meramente como substantivo simples. O patrão traz consigo toda carga de autoridade; de proprietário; de senhor do que está em sua propriedade. Toda carga semântica oriunda da acumulação dos séculos e mais séculos da vergonha escravocrata a qual tentamos jogar para debaixo do tapete ou dos carpetes comprados a peso de ouro ou através de sangue e suor. O patrão é o dono do corpo, do ser que ali está. E faz valer essa posse maldita, usufruindo dos sonhos e entranhas da moça que somente queria não ter intimidade com a ambição.   
Dolores é mulher que não espera. Ou 8 ou 80. E com a mesma intensidade com que se apresenta na trama, se esvai, deixando-nos com um acre sabor na boca. Dessa mesma matéria é que é feita toda a obra de Flor, Priscila. Do suave e ao mesmo tempo amargo veneno do cotidiano. Retirado (esse veneno) das entranhas dos personagens mais improváveis. Aqueles que vivem à margem do aroma europeu; das roupas limpas com amaciantes. Esses que arriscam suas existências a cada amanhecer e anoitecer. Se me fosse solicitado um nome para enquadrá-los (os personagens desse livro) usaria, sem receio de titubear o nome e-nig-má-ti-cos. Pois quantos mais mergulhamos em seus universos, mais ele nos intrigam, nos tragam para seus obscurantismos internos.
Não desejo boa leitura, pois estaria ludibriando você que nesse momento tem essa obra em mãos. O que posso lhe desejar é atenção às sutilezas e que sua leitura seja instigantemente provocante ao ponto de lhe retirar da zona de conforto.  
  

Face           Adriano RockSilva
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Twitter    @adrianopoeta_al


segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Poeminha de despedida

Poeminha de despedida

A todas as minhas leitoras


Acalmai-vos que já é tarde
E todas as damas já se recolheram
Aos seus aposentos. Todos os
Apertos de mão foram dados
E as taças que a pouco transbordavam
De bolhas e risos, agora se prostram
Num canto qualquer da sala escura.

Acalmai-vos que já vejo as cortinas
Se cerrarem e ouço a voz firme e
Direta do diretor dizer: - Corta!!

Acalmai-vos, querida leitora
Que já findei minha tarefa
Para contigo; e por hora
Me vejo novamente na
Árdua missão de reiniciar
Nosso ciclo vicioso
Chamado poesia.


Penélope SS

9-10-17  21h:11 

domingo, 8 de outubro de 2017

Dia de sol

Dia de sol

À amiga das Letras Dani Batista Andrade


A ti os bens e os parabéns e o além
De parabenizar. A ti o dia tão solar
E límpido nessa manhã de outubro
E o mais das flores e dos aromas
Dos campos e o marulhar das ondas
Nesse infinito mar de Odisseu.
A ti a estima e a grandeza, postas
Na alma de tamanha realeza.
A ti as Letras mais altíssimas
Postas em garrafais madrigais.
Parabenizar é preciso, ao tempo
Em que celebramos as palavras
Imortais do poeta lusitano, todavia
Lancemo-nos ao mar pois nadar, seguir
E viver se faz necessariamente intenso.


Penélope SS

8-10-17  7h:41

Deverasmente

Deverasmente

À amiga e incrivelmente fotógrafa Jennifer Yamashita


Deverasmente o som, a alma do pianista
E as tintas multicores da artista
Se coadunam como se fora partes de
Um todo. Assim também a lente que

Mira sua retina sobre o cotidiano,
Buscando em nós, seres provincianos,
O que demais há de encantado. Ah! Fardo
Nosso; idas e vindas diárias, rotina, dardo

No peito e sorrisos amarelados. Seguiremos
Paulatinamente no entra e sai de gente;
No caos definido e organizadamente

Posto em nossos hipotálamos, enquanto
As telas e lentes dos renascentistas
Nos capturam ao seu bel prazer.


Penélope SS

8-10-17  7h:16

Alma de poeta não dorme

Alma de poeta não dorme


Meia-noite jaz e ainda me flui o labor poético.
Nesses dias tão caóticos, me resta deitar
prolongadamente durante a tarde,
ao passo que no breu noturno
é que surgirão os delírios poéticos;
tanto vagar a ludibriar as horas mais calmas dentro da noite.
Meia-noite jaz e de tanto buscar saída de mim,
minh’alma se fez independente,
ao passo de não mais obedecer aos meus comandos.

Deitar-me-ei

ao passo que o cantar do galo
avisa aos transeuntes que
é hora de laborar.


Penélope SS

1-10-17  00h:08

Poesia noturna

Poesia noturna


A espreita anda me vigiando
Certo poema noturno. Não me
Admiro que já não me tenha
Tomado de assalto minha pena
E posto ele mesmo suas ideias
Absurdas nesta folha em branco.


Penélope SS

1-10-17  00h:00

Poesia na porta

Poesia na porta


Não temas se por acaso o poema não vir.
A decepção do poeta sempre é maior
Que a do amor.
E assim seguem a caneta e as flores
No triste buscar de outros olhares.


Penélope SS

30-9-17  23h:55

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Conselhos de Clarice

Conselhos de Clarice

Mais um poema em homenagem à inigualável Clarice Lispector


Leio e releio os contos de Clarice
E sempre me pego na meiga tolice
De acreditar em suas divagações;
Em suas máximas e desilusões.

Agarro-me aos seus conselhos
E me vou ao desconhecido; joelhos
Cansados de tantas quedas e solavancos
Todavia sigo Clarice, aos trancos

E barrancos. No mais, a recomendo
A quem deseje sentir-se vivo e altivo
Seja na esfera solitária ou agregada;

Na loucura dos versos; na chagada
Existência do ser indeciso e plural,
Lendo-a com afinco e ardor gutural.


Penélope SS

28-9-17  21h:25 

Ora, direi...

Ora, direi...

Em homenagem ao imortal poeta Olavo Bilac


Ora, direi... não consigo ouvir
As estrelas como Bilac, pois elas
Se recusam a me contar certas
Confidências. E a esmo fico

Feito tolo, a mirar esse limpo
E brilhante céu, cheio de constelações.
Ora, direi... melhor nada dizer;
Melhor calar e mirar, e admirá-las.

Talvez tamanha recusa se dê por
Conta de minha métrica desregrada,
Ou por falta de decassílabos, sei lá

Eu. Contudo, direi, e ora, direi...
Que as admiro mesmo assim
Entes luzentes na noite sem fim.


Penélope SS

28-9-17  20h:38

Ah, quem me dera...

Ah, quem me dera...

Em homenagem ao grande poeta Eduardo Alves da Costa


Ah, quem me dera um doce afago
Dentro desses dias de gosto amargo
E enfadonhos. Quem me dera riso
E céu aberto, dentro do imprevisto

Das horas infindas. Nessas idas
E vindas, aos tropicões e vida
Acinzentada. Quem me dera
Aroma floral, dentro da quimera

Noturna que jaz me consome.
Ah, quão tolo é meu desejo
Ao passo em que me deito

Na gélida alcova que outrora
Se fez vistosa; nascente Aurora.
Oh, delírio febril; chamando teu nome.


Penélope SS

28-9-17  20h:50

terça-feira, 26 de setembro de 2017

Lirismo galante

Lirismo galante


Meu lirismo estragou a noite.
Fez chover quando na verdade deveria
Apenas sentar-se à mesa e sussurrar
Palavras de alto calão. Educadamente,

Me retirei e o deixei a mercê dos
Transeuntes que se abrigavam em
Suas cadeiras de marfim; todos
Com suas damas e ternos e risos

Extravagantes. Sentei-me ao piano
E arrisquei Chopin. Fui tomado
Por tamanho transe que cheguei ao

Ponto de quase não sentir meus dedos
Nas teclas; e enquanto isso, meu
Lirismo encantava as damas na antessala.


Penélope SS

26-9-17   20h:51

Poesia didática

Poesia didática


Onde mais cabe a poesia, senão
Nas mãos suadas e trêmulas dos
Leitores dos folhetins deste século
Obscuro e leproso. Onde pôr todas

As assonâncias e aliterações e todos os
Sonetos, senão neste fim de tarde
Que por hora é o que nos apetece.
Sejais tua própria obra, mesmo que

Cinza ou por hora incompreendida;
Mas sejais, sejais tua própria tela,
Tua musa e tuas tintas. Assim é que

Nasce o que chamamos Arte. Tolos os
Que tentam enquadrar todas as peles
No mesmo tom; poesia é ser o que se é.


Penélope SS

26-09-17   21h:03

Poeminha sobre o piano de Chopin

Poeminha sobre o piano de Chopin


O triste do piano é o silêncio que
Ele exige de nós. Minimamente
Suspiramos, respirar nem pensar,
Enquanto ouvimos o dedilhar macio

E firme.

A alegria do piano é o estrondar das
Palmas, ao final da execução. Bravo!
Bravo! Gritamos em uníssono, enquanto
Os amores se entreolham, buscando uns

Aos outros.    


Penélope SS

26-9-17   21h:42

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Quadrinha de fim de tarde e início da primavera

Quadrinha de fim de tarde e início da primavera


Alinhou-se o sol e todo seu esplendor
Aquecendo a vida que jaz fria andava
Tristonha e cabisbaixa; tornando a flor
Doce e vistosa; e as mãos amaram-se, novamente.


Penélope SS

22-09-17  16h:34

Voltando ao início

Voltando ao início


Descendo as escadas a largos
Passos, corre o Homem, ao passo
Que sua humanidade regride, fora
Do compasso; cambaleante e claudicante.

Constato todas as hipóteses de aniquilação
Diante do luzente objeto que cruza o céu
E minha visão. Ataques e sotaques à beira
De um ataques de nervos e de bombas.

Corramos dos tremores; das ondas e das
Inundações. Corramos dos homens-nada
E dos que se estraçalham por cega-visão;

Corramos da ira das gravatas que apertam
Todos os botões-vermelhos; corramos...
Até que a única saída seja mudar de casa.


Penélope SS

22-09-17  15h:20

Não existe dinheiro na poesia

Não existe dinheiro na poesia

Mais uma homenagem ao sempre inspirador Alan Poe


Constatou-se que Poe morreu como
Indigente ou coisa pior. Um monte
De terra jogada na face de uma mente
De brilho incomparavelmente raro.

E após tal heresia, todos foram para
Suas casas jantar e ler notícias do
Dia. Somente Virgínia pode adentrar
No âmago do poeta e lá acender

A luminária do sopro vital. Apenas
O olhar da musa o fez pulsar com
Mais brio e encher os pulmões

De amor ou coisa que o valha.
Contudo, lhe vieram a dor e a
Perda; e findou-se a poesia e o poeta.


Penélope SS

22-09-17  15h:34

Fragmento

Fragmento

Em homenagem a poetisa Flor, Priscila


Trago em mim todos os fragmentos
De meu povo: a dança na senzala e
As tintas espalhadas no corpo; exala;
Espalha; embaralhando todas as dores

E gemidos sentidos por quem me
Precedeu. O suor na labuta; cantigas
Ao anoitecer exaltando ancestrais e
Os ais e os partos e toda sorte de não

Tê-la. Trago intrínseca a vergonha dos
Navios abarrotados de vidas e o banzo
Que mata de tanto sentir o cheiro ao

Longe; distante o desterro do chão,
Do lar, do além-mar, do penar e lutar
E triunfar: vigor de herói na barriga da serra.  


Penélope SS

20-09-17  19h:55

sábado, 2 de setembro de 2017

A falta

A falta

Em homenagem aos 30 anos da morte de Carlos Drummond


Falta tua é dor imensa
Ausência que descompensa
Latente, pungente e amarga;
É dor infinda, profunda e larga.

Falta da voz, firme e sábia
Palavras, pedras, caminhos, calma.
Fila do feijão e tantas outras onde
Nos quedamos à espera do bonde;

À espera do vindouro e ouro
Das Minas, com seus óculos
A mirar-nos, e suas órbitas

Malfadadas pelo triste agouro  
Dos dias contemporâneos. Ossos
Do ofício esse faltar; essas cólicas.


Penélope SS
17-8-17  9h:43   

  

Passarinho molhado

Passarinho molhado

A Mario Quintana

Acolhi em mim teu riso
Teu lirismo sincero e puro
Tuas imagens diversas.

Acolhemos o poeta tímido e conciso
Em suas graças singelas, sutis e seguro
Acolhamos seu canto, seu voar, e conversa.


Penélope SS

24-8-17  9h:41 

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

A falta

A falta

Em homenagem aos 30 anos da morte de Carlos Drummond


Falta tua é dor imensa
Ausência que descompensa
Latente, pungente e amarga;
É dor infinda, profunda e larga.

Falta da voz, firme e sábia
Palavras, pedras, caminhos, calma.
Fila do feijão e tantas outras onde
Nos quedamos à espera do bonde;

À espera do vindouro e ouro
Das Minas, com seus óculos
A mirar-nos, e suas órbitas

Malfadadas pelo triste agouro   
Dos dias contemporâneos. Ossos
Do ofício esse faltar; essas cólicas.


Penélope SS

17-8-17  9h:43   

domingo, 23 de julho de 2017

Filosofia barata

Filosofia barata


De tanto filosofar
Cheguei a pensar
Que a humanidade
Tinha salvação.

Ai de nós que pensamos.
Felizes são os animais
Com suas vidas e mortes
Sem sentido.


Penélope SS
24-6-17  21h:21


Passo de Pessoa

Passo de Pessoa


Passo a passo
No firme compasso
Das pernas e das horas,
Segue Pessoa com sua
Certeza incerta no olhar
Desconfiado dos transeuntes.


Penélope SS
22-7-17  23h:58


Horas (ponteiros vitais)

Horas (ponteiros vitais)


O som do clique segue
Seguindo a cada segundo,
Martelando nossa existência
Com seu tic-tac; tic-tac.

E no ir de cada volta,
Perdemos mais de nossa vida;

O som vibrante do metal
A nos guiar os pensamentos,
Tornando-nos escravos
Das voltas
Milimetricamente programadas
Em sua memória vazia e dominadora.  


Penélope SS

23-7-17  00h:08 

Atalho

Atalho

Ao mestre Joaquim Maria, com carinho

O viram pela última vez
Às margens de uma obra machadiana
Tateando, cambaleante, embriagado até
Por conta do alto teor onírico encontrado
Nas entrelinhas de um tal Sr. Cubas.


Penélope SS

23-7-17  00h:16

Moby Dick

Moby Dick


Perdemo-nos dentro do infinito
Azul salgado, à procura do mito
Inquebrável dos mares. Quão
Fascinante teus olhos na imensidão

Brilhante da noite; quão gigantesca
Vida dentre inúmeras outras. Dantesca,
Diriam os olhos ao ver-te na imponente
E majestosa aparição. Ser luzente

Por sobre as águas; arfando os corações
Dos marujos, desejosos por tua queda,
Teu último sopro vital. Ações, reações

E barcos ao mar; tentativas vãs; ouros, moeda
Todas as riquezas por teu óleo sagrado,
Oh cachalote imortal, bestial e imensurável.


Penélope SS

23-7-17  00h:51  

sábado, 24 de junho de 2017

Quadrinha do silêncio

Quadrinha do silêncio


Quando fechei meus olhos; ouvi
O marulhar dos lábios que a tanto
Buscava por entre lábios tantos. E
No singelo tocar, notei teu acalanto.


Penélope SS  

22-6-17  22h:35

Quadrinha do tolo

Quadrinha do tolo


Fatiguei minhas retinas
Na obscuridade luminosa
Do falso brilho das órbitas
Presentes em tua face inóspita.


Penélope SS

24-6-17  10h:23 

Distante as flores e amores

Distante as flores e amores


Tão distante as flores
Quanto o perfume.
Assim passamos o dia
Aguardando retorno
Dos aromas e primores.


Penélope SS

24-6-17  10h:32 

Poeminha do poeta aniversariante

Poeminha do poeta aniversariante


Felicidades e infinitas palavras de afeto
Abraços e afagos e peito sempre aberto
A poeta nada se deseja mais do que
Rabiscos, fantasias e inventividade.


Penélope SS

24-6-17  10h:39

quinta-feira, 15 de junho de 2017

Geisha

Geisha


A parte à parte de minha parte,
Deixei-a sobre teus cuidados,
Doce cálido baluarte;
Larguei-me e me fui às cegas,
Mirando parte tua que em mim agrega.
Findei em tuas madeixas
Em teus encantos de gueixa.


Penélope SS

4-6-17   8h:31

Mar ilha

Mar ilha


Poematizei tuas ondas e cabelos;
Cheguei o mais próximo dos teus eus;
Naveguei em ondas e espumas;
Desbravando tuas verdades e veredas
Ilhei-me em fim,
Naufragando onde sois mais atraente.

Ilha minha
Mar de meus desejos
Em ti, Marília, me perco e almejo.  


Penélope SS

4-6-17   8h:16

Tão longe

Tão longe


Gastei todos os meu sapatos
Seguindo sua voz e passos
Vagando por onde suas pegadas
Me atraiam, sem rumo ou chegada.

Tentei não ir tão longe; em vão
Neguei meu desejo, enquanto
Ânsia íntima, angústia e pranto
Devoravam-me; paradoxos, nãos

E inúmeros outros antagonistas.
Pouco a pouco, nessa floresta
Densa e vazia, apenas o som

Do seu cheiro alienista
E inebriante é o que me resta;
Doce maciez; declínio e dom.


Penélope SS

7-6-17  17h:49

A ti, Plumeria

A ti, Plumeria

Dedicado com infinito amor a minha flor Penélope Júlia.

A ti meu ter
E meu ser
Meu ar e mar
Todo oceano
Infinito e plano

A ti meus olhos
E cuidados;
A ti, olhos meus,
Que tanto guardo
E resguardo.

A ti, que tanto amo
A ti, flor dos campos
Aroma de meus dias
Doce nota; suave melodia

A ti que velo
Desde o início
A ti eterno elo
A ti, meu fim e
Princípio.


Penélope SS

9/6/17  00h:17⁠⁠⁠⁠

Recôndito

Recôndito


Mirei teus olhos e contive
Toda minha afeição. Guardei-a
Para quando desabrochar teu
Mais singelo sorriso; me cative

Por noites e dias e verás a teia
Mais terna e recôndita, onde camafeu
Esculpido aguarda por lânguidos
E singelos afagos. Dizeis quando

Virás! Para que assim o álgido
E gélido inverno se esvaia de mim.
Dizeis, dizeis, pois a clamar ando.

Mirei ao longe tua vinda; e, por
Hora, a sombra dos teus passos
Arrefecem meu ser, enfim.


Penélope SS

8-6-17  00h:07