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sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

As curvas de Oscar


A Oscar Niemayer

Curvou-se o que de mais concreto havia;
Curvou-se o sol;
Curvou-se o tempo;

No momento exato em que
o centenário artista suspirava;
Na fração precisa de suas linhas;

Curvou-se o dia;
Curvou-se a nação;
Curvou-se o mundo;

No momento preciso em que
a noite cai por sobre a cidade central,
coração de um país;
No pedaço sólido, imóvel,
inimaginavelmente capaz de curvar-se;

Curvou-se a certeza humana, diante do simplório;
Curvou-se a vontade de seguir, diante do invencível.
Curvaram-se as curvas da garota de Ipanema;
Curvaram-se os íngremes terrenos; 

Curvamo-nos todos.

Gênio é o que cria, do inesperado, o novo.
Gênio é aquele que nos traz o futuro do futuro.  

Não se define um gênio:
Diante dele, curva-se e agradece.
É pena haver a Morte.

Penélope SS
7-12-12  20h:24

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Pão


Não ganho meu pão com o que escrevo.
Preciso suar diariamente;
Pingar gota-a-gota meu cansaço, para que me sacie a fome.

Não ganho meu pão com o que escrevo.
Para mim, a Literatura é como uma amante:
Visito-a furtivamente para distrair-me.
Depois, saciado, a deixo dormindo,
enquanto, sorrateiramente, volto a suar diariamente.

Não ganho meu pão com o que escrevo.
A Literatura preenche minha alma;
Não minha barriga vazia.

Penélope SS
1-12-12  18h:35

Ignorante


Não sei o que é poesia.
Escrevi sete mil versos
mas nenhum que merecesse ser lido.

Não conheço os autores de meu tempo.
Estou preso num mundo arcaico,
onde cabem apenas EU e meu defuntos-autores.

Nunca li os teóricos;
Prefiro conhecer Bandeira e Drummond
olhando-os olho no olho;
Prefiro tropeçar nas pedras;
Prefiro presenciar o sangramento do verso.

Não sei o que é poesia.
Escrevo por inquietude ou teimosia.

Penélope SS
1-12-12  18h:55

Poema curtinho


Sentei-me;
Pensei;
Refleti durante longos
sessenta segundos e,
por fim, escrevi
um poema curtinho.

Penélope SS
1-12-12   19h:10

Fardo (carta ao amigo Carlos Drummond)


Caro amigo Drummond, confesso-te:
é demasiado pesado o fardo
que carregamos. Nestes dias de desumanidade
é preciso ser muito mais que humano.

É preciso ser super-, hiper-,
para suportarmos a carga da vida.

Caro amigo Drummond, confesso-te:
a máquina do mundo está gasta,
carcomida pela ferrugem amarga
da insensatez dos homens.

Caro amigo Drummond, confesso-te:
tenho as pupilas cansadas e o pensamento distante.
Penso em minha amada Rocha Cavalcante;
é triste lembrar o passado, amigo,

pois o futuro nos traz o cansaço e uma cama fria
para deitarmos à noite,
enquanto lá fora seguem os homens devorando-se.

Penélope SS
2-12-12   21h:01 

Infância


Dedicado com todo amor a meu amado irmão Arnaldo.

Penso em minha infância.
E me vem à mente um rio:
Um rio de águas não tão limpas,
mas um rio onde adorava banhar-me.
Penso em minha infância.
E me vem à mente duas ruas:
uma nos levava ao centro e
a outra nos trazia de volta
a doce casa de minha primeira mãe.
Penso em minha infância.
E me vem à mente poucos amigos: João, Zezinho...
Penso em minha infância.
E me vem à mente a voz de meu amado irmão.
Penso em meu irmão
e me vem lágrimas aos olhos.

A saudade é uma faca
que nos fere sem a menor pena.

Penso em Rocha Cavalcante e
me vem um desejo de ter novamente
a idade de minha infância.

Penélope SS
2-12-12   21h:15

De ti


De ti nada mais quero.
Sabes bem o que digo nestas últimas palavras
proferidas com certo desleixo.
De ti nada mais quero do que nunca tive.
Sabes bem o caminho da saída.
De ti nada mais quero
do que um aceno rápido e um sorriso amarelo.
De ti nada mais.
Nada. De ti.
!gracias!

Penélope SS
2-12-12  23h:05

Espelho mudo


Poema, poema meu, respondes-me:
— há no Mundo poeta mais tolo do que eu?

Penélope SS
2-12-12  23h:14

Constatação


A poesia tira meu sono e,
tonto ando a escrever,
como se todos os males do Mundo
fossem resolvidos com tinta e papel.

Pasmem todos!
Poesia não é para mim;
não é coisa de vagabundo,
já dizia meu ilustre mestre.

Penélope SS
2-12-12  23h:19 

Joaquim Maria


Dever não é o problema;
a questão é o crédito que se dá após a quitação.
Machado tinha razão ao escrever Senhora:
o dinheiro é um entrave em nossa vida.

Penélope SS
2-12-12  23h:27

Poema de memória


Pensei em Machado e fiz um poema;
Os mortos sempre nos visitam
quando mais precisamos.

Balzac escrevia porque devia muito;
eu; porque não tenho sono.

Flaubert sentiu o veneno em sua boca
quando matou Ema;
Triste de Charles que morreu duas vezes.

Triste de mim que nada sinto
ao matar meus personagens.

Penélope SS
2-12-12  23h:36