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domingo, 18 de dezembro de 2016

“O que eu sinto?”

“O que eu sinto?”

Poema em parceria com a artista Jennifer Yamashita


Ando em voltas com minha existência
Assim, assim, meio de soslaio mirando
Suas peripécias, acasos e ocorrências
Nessa sina diária-louca em que ando.

Ando em voltas com meus pesares
Tantas as ruas, concretos, vielas e males.
Angústias mil, imenso desejo, mudança de ares.
Ando assim, bússola incerta, singrando mares

E ares, feito vento forte e suave, vindo e indo
Sem seta nem Norte. Ando e corro; vivo e morro
Dia após dia, respirando o ser contido nos idos

De outras eras. Triste sina minha essa
De vagar e divagar ideias, pedir socorro
Enquanto escorro meu ser, aguardando promessa.


Penélope SS

18-12-16   10h:20

Poema resposta (arado dos poetas)

Poema resposta (arado dos poetas)


Palavra:
Quão difícil definir
Imputar sentido
Enquadrar, tornar findo.

E eu, por arriscar,
Perdi-me nas palavras da poeta
Tentando guia-me por íngreme terreno
Campo vasto e ermo.

Nesse descampado vocabular
Cambaleei diante do escaldante grito
Solar de meio-dia; terra de meu agrado
Onde piso; onde vivo; onde sinto: arado

De tantas vozes és tu: palavra.


Penélope SS
16-9-16  20h:15


Poema que não serve

Poema que não serve


Quem caiu por tamanho cegar diante do sol?
Quando ao chão chegou, quanto de dor era só
Mais um agravante? Um reclamante, retirante
De terras tão inóspitas; caliente inferno de Dante

Na comédia diária e divina dos nossos dias
Amarelos e sem cor; aromaticamente sem odor
Tornando-se visivelmente obscuro aos que
Tentam enxergá-lo. Caiu; feriu-se; quedou-se...

Findo sofrer, como findo poema.


Penélope SS

16-9-16  20h:46  

Banquete de Sade

Banquete de Sade


Servi-me de teu banquete
Adorável manjar; intenso deleite.
Ó fartura infinda que nunca cessa,
Mata-me a fome de ti, pois tenho pressa

Em tragar-te, devorar tuas curvas de musa.
Vênus de meu Olimpo; Afrodite de meus desejos,
És tu a bela-dama que em meus delírios vejo
A suspirar prazeres quando de tua gruta reclusa

Me apodero? Bem sabeis o quanto sou de ti amante;
E bem sei eu de teus afagos e vigor, que diante
De tamanha volúpia faço-me viril, radiante

Feito um servo de Sade a tragar forças tuas
Aqui, ali, acolá sem definido lugar;
Ó adorável manjar, musa minha, toda nua.


Penélope SS

17-9-16  00h:08

In (definição) do Amor

In (definição) do Amor


O amor é o doce frio que aquece
Aqui, ali, acolá. E a todos arrefece
O espírito pungente, vibrante por
Ter metade outra. Ah o amor!

É saber que se não pode prender
Embaixo do braço sorriso amado
Nem manter eterno carinho dado.

O amor é sol de Apolo
É de Cupido arco
Dos campos é Flora
Afrodite que semeia, aflora
Teu sabor Mundo a fora.


Penélope SS

18-9-16  23h:59

A visita de Otelo

A visita de Otelo


Ai de mim que não sou eu
E na penumbra das horas me torno ser
Inculto e oculto; Otelo de minhas dúvidas: ter ou não ter?
Eis o desejar de minhas retinas fadadas e fatigadas. Apogeu
Meu que alcança, lançando-me aos refletores e o mais.

Ai de mim que não me descubro em meio a tantos
E infinitos olhares; diria mais luminosos, caudalosos até.
Contudo, ainda simpatizo com meu espelho; reflexo
Do eco estridente e vibrante que hora apossou-se do nexo

Interior cuja habitante sou. Devaneios, floreios de mente
A vagar por pensamentos de outrem; erroneamente
Vaguei; campos e arados; firmando meus pés em solo

Cultivado por mãos estrangeiras; Otelo! Otelo! Consolo
Minhas retinas e minhas agruras diante do vasto
E infinito; quisera eu saber o que de mim serei... ou não serei?


Penélope SS

22-10-16   22h:53

Frases a um amor súbito

Frases a um amor súbito


Um amor súbito em minha alma
Se fez presente, inundando-me o ser
Que ávido havia tanto tempo em ver
Figura tua. Chegastes, então, e a calma

Se fez mais forte que angustia constante.
Ora, dirão todos o quanto de lucidez perdi
Por jogar-me em teu abismo, fonte inebriante
A saciar-me o vazio cardíaco lancinante. Ouvi

Teus dizeres; tuas alegações; suspiros e pulsações;
Senti o que de mais íntimo havia em tua confissão.
Haveis de saber quanto de intrínseco na comunhão 

Súbita de nossas palavras? Sim, deveras que sim.
Haveis de deitar por hoje sem que haja conotações
Diversas em teu pensar? Não, pois sabeis que amor súbito é assim.


Penélope SS

23-10-16   23h:54

Canto da musa aos viventes

Canto da musa aos viventes


Cantei a lira de um poeta bem-dizente
Desses que se apegam aos seres e amores.
Cantei o riso da jovem que encanta os viventes,
Entes pequenos nos brejos e matas; saltitantes
E vibrantes por tamanho amor.

Cantei o pedido da bela moça ao declarar-me
Seu canto ao canto das aves e suas alegrias;
Suas graças e garças ao revoar da tarde;
Cantei tuas plumas e patas; tantas cores e flores.

Cantei, decerto que o fiz com zelo e cautela
Cantei o pedido de tão hermosa dama.

Cantei oh! Flora, teus campos abertos e pulsantes
Cantei o raiar de Apolo e teu brilho a nos reviver

Cantei a ti bela musa, o canto de mil cantos
Nos cantos por onde passei.
E assim, por fim, sabeis que sempre o farei.


Penélope SS

23-10-16   00h:34

Sina de poeta

Sina de poeta

Em homenagem a escritora e parceira das Letras Dani Batista


Pois bem, vos digo que poesia é isso que
Vos trago em baixo do braço; embrulhado
Em papel de pão e com aroma de fim de tarde.
Pois bem, vos entrego todas as antologias
E pensamentos; todos os poetas e seus dizeres.

Fazeis bem uso de nossas angústias e sofrimentos;
Todas as nossas definições do amor e amar e sofrer
E viver e sentir e partir e ficar e amar e recomeçar.

Caminha o poeta no cair da tarde
E esse ser carrega consigo todos os olhares
Todas as observações.

Caminha o poeta
Sozinho
Pão embaixo do braço
E todas as vidas por contar
Nas folhas brancas que guarda em casa.


Penélope SS

23-10-16   1h:07

Gotas de chuva

Gotas de chuva


Choveu na tarde de domingo
E todas as folhas se encheram de alegria
Como crianças correndo descalças; indo
E vindo, nas calçadas empoçadas. Dia

Perfeito para estar contigo, em meio às águas
E todas as gotas frias vindas do céu; gotejem
Sobre nós, enquanto nos damos os braços
E em nossos abraços guardamos tua força vital.

Choveu na tarde fria de minhas mágoas
E deixei que correnteza tua lambessem
Minhas feridas, curando-as; laço

Inquebrável entre nossos sentidos,
Assim desejo todas as tardes invernais
Dentro do calor dos nossos braços e abraços.


Penélope SS

23-10-16  16h:10

Exposição

Exposição

Poema em parceria com a artista Jennifer Yamashita

Expus o que de meu tenho de tudo
Abri meu corpo, deixei-o ao vento,
Suave e puro.
Que há de mais humano senão o ser
Em plenitude? Sem vestes e trajes.
Apenas o cheiro da pele;
Apenas o ar do respiro;
E o toque doce das mãos suaves.

Deixei-me à vontade
Pois nada mais tenho em mim
do que a sina de me equilibrar
nessa linha tênue chamada arte.


Penélope SS

11-12-16  15h:49

Poema combatente

Poema combatente


Poesia para os amantes e
armas para os combatentes.
Em nossos dias sombrios
onde jaz tantas lutas infindas,
perfídias moléstias palacianas;
Caninanas com suas vestes caras e impolutas;

Perdi eu capacidade de falar?
Incapaz de ler por entre as falas e gestos?

Diz-me, ô musa, por onde andarás?

Terei eu me tornado órfão de teus encantos?

Poesia para os poetas
E armas a juventude
E assim fundaremos
Nossa Pátria


Penélope SS

11-12-16   16h:08 

Ferreira

Ferreira

Ao imortal poeta Ferreira Gullar

Angustie-me ao te ver partir
Tal qual aflição de mãe; e assim
Fiquei, no mais alto grau do penar
Mirado tuas vestes, teus versos, teu olhar.

Angustie-me ao te ver tão silencioso
E quieto; mãos poéticas; voz de brado.
Quisera eu prolongar-te o sopro, o sobrado.
Todavia é findo o vital fardo. Porém brioso

É teu legado e tuas palavras. Atemporais
São teus versos, obra ímpar dentre as imortais,
Figurando em linha de frente, atenta ao combate

Ao grito, ao certeiro tiro. Tempos de embate
Que em outros tempos vencestes, mas que por hora
Aquietai-vos a pena, serena e brilhante feito Aurora.


Penélope SS

18-12-16   7h:55

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Fardo

Fardo

A minha querida amiga Telma (força e fé)


Suportai vosso fardo, e mesmo na eminência
Da desistência, segurai e suportai vosso enfado,
Mantendo erguido vosso peito, mesmo com árduo
Dardo a mirar-te. Suportai, uma vez que clemência

Celeste assertivamente descerá a ti. Haver sofrer
Certo é; todavia, todo calejar a ti servirá
De tijolo à tua construção; alicerçará e tornará
Fortaleza tua inquebrável-baluarte. Padecer,

Arrefecer, esmorecer, desguarnecer: ouvidai tais
Dizeres. Suportai, mesmo que por longa noite;
Suportai o escaldar do sol; a friagem; todos os ais;

Manter-se na vertical, mirando o porvir. Afoite
Teu desejar (ardente e flamejante chama).
Suportai por hora, que nascente dia trará a ti radiante Aurora.


Penélope SS

19-8-16   23h:35

Delírio noturno

Delírio noturno


Senti tanto aperto ao pensar em teus braços
Distantes que ainda agora doi-me o cansaço
Dos olhos por verter tantas lágrimas, mágoas
E crises de soluços intermináveis; tantos ais

Que me alagam; tantas horas de sofrer; o mais
É nada, é chaga aberta que não fecha; ademais,
Findo se faz todas as tentativas vãs de lograr
Êxito em teu regresso; inverso tornou-se lugar

Onde vivo. Onde jaz minhas meias e teu cheiro;
Onde jaz a saudade e a chama do candeeiro;
Senti tanto aperto ao pensar em teu calor

Que tremi, estremeci e delirei tamanho o torpor
Recaído sobre mim. Corri de canto a canto
Clamando dentro da noite teu nome: amor.


Penélope SS

16-9-16  15h:57

Porta aberta

Porta aberta


Vaguei, erroneamente, vaguei,
E eis que em porta tua quedei
Meus chinelos e sacolas
Minhas vontades e saudades

Aceitai-vos


Penélope SS
20-8-16  00h:40


Quadrinha da água

Quadrinha da água


Gota a gota, no suave som do pingo
Eis que me vem à mente o hino
Das nuvens, singelo e fino,
Vagando e soando, noite a dentro, feito sino.


Penélope SS

20-8-16  00h:28

Mozart

Mozart


Haver não há quem mais possa conter
A essência dos céus, do maior Ser.
Quem de tão grandioso dom merecedor seria?
Senão ti imortal sonhador, infinita eugeria.


Penélope SS

29-8-16  00h:24

Leitura dinâmica

Leitura dinâmica  


Ler-te-ei casta impura musa
Lerei tuas indecências e teus arremates de virgem
Lerei tuas sebes, teus labirintos cor de rubi
Embrenhar-me-ei por artérias e todas as inebriantes dermes

Farei de ti obra minha
Decifrando cada ponto recôndito;
Analisando toda ida e vinda
Todo ser e não ser de tuas afirmativas e negações.

Lerei tuas rosas
Teus espinhos afiados e ardentes por meu sangue
Lerei tuas retinas, órbitas de meu céu.
Lerei tuas sílabas, cheias de ais e de nós.

Farei sinfonia
Bachiana harmonia

E findo labor, deitar-me-ei aos teus pés
Grato a ti por lição tão valiosa.

Ler-te do início ao cabo
Decifrar-te do princípio ao fim
É tarefa gloriosa, de fino garbo
Que me proponho sempre, enfim.


Penélope SS

28-8-16  23h:30

Querelas

Querelas


Querelas de meus dias, do nascer ao cair solar
Querelas tantas, incontáveis eras, no buscar
De findas lutas. Querelas, querelas, quantas tantas
Ainda hão de se impor às minhas retinas?

Bem as digo, bem as tenho, bem as anseio

Querelas de meu querer;
Querelas de minha era;
Querelas queridas
Quanto tanto as quero
Que as tenho com infindo esmero.


Penélope SS

20-8-16   00h:11

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Poema Brasília

Poema Brasília


Oposição
Situação
Delação
Informação
Mensalão
Petrolão
Eleição
Acordão

Todos os ão do mundo estão em Brasília.
Conchavos e intrigas;
amigos ontem, hoje mortais brigas
nos corredores e púlpitos do Planalto.
Nomeações e cuecas abarrotadas;
Olho gordo nos cargos e atenção nas pedaladas.

Julguemos uns aos outros
até que não sobre viv’alma para nos fazer uma nova revelação;
Julguemos todos e atiremos
à fogueira todas as bruxas e feiticeiros;

Sejamos juízes e executores

Triste Brasília de fedentina atmosférica e atemporal
Limpai vossos corredores;
Execrai vossos demônios e mandatários;    

Ora pois! Culpado sois Cabral
Por pousar, erroneamente, aqui tuas naus.

Ora pois! Aqui se plantando tudo dá:
principalmente erva-daninha.


Penélope SS

13-8-16  21h:36

Cama para dois (poema retorno)

Cama para dois (poema retorno)


Ah! Poesia, voltei a ti
Como um filho à mãe
Como amante à amada

Voltei aos braços teus,
feito louco saudoso de teus afagos e carinhos.
Aninho-me novamente em teu colo de musa.
Casta Vênus de minhas noites;
bálsamo de minhas agruras;
amarguras tantas que encontrei
pela longa estadia distante de teus olhos e olhares.

Eis-me aqui, Musa.
Eis-me ao teu dispor e ao impor de tuas vontades
Eis-me às tuas palavras

Desejoso como Romeu,
ao vislumbrar tamanha beleza de Julieta,
assim estava meu ser por tuas canções e calores;

Como houvera tanto tempo
passar sem que ao teu deleite retornasse?
Como houvera tantos dias e noites se intercalarem
sem que ao teu monte-de-vênus escalasse,
na busca primeira do teu sabor e frescor?

Ah! Poesia,
A ti voltei
Doce luz de minhas retinas
Aromático toque de jardim floral

Eis-me aqui em tua presença
Eis-me aqui em tua cama, poeticamente preparada para nosso enlace.
Eis-me teu servo, casta musa
Eis-me.


Penélope SS

13-8-16   21h:09

Recortei-me

Recortei-me


Recortei-me em várias, inúmeras de mim
Sobre parede limpa. Camuflei minhas intenções
Em tons diversos: me fiz camaleoa, cheia de
Outras tantas, um Pessoa de meu tempo.

Recortei-me,
Desfiz-me,
Na tentativa de unir-me
Ao que tenho de mais meu:
Cores, lente, tempo, universalidade.


Penélope SS

2-7-16  02h:38

Ato solo

Ato solo


Atua o ator no palco imenso e vazio de outro,
Assim como o poeta o faz em folha limpa
Criando suas máscaras com alegrias e lágrimas
Com fervor e parcimônia, ambos se desgastam

Na tentativa vã de agradar a plateia
Faminta por emoções e tragédias
Filhos de Homero, órfãos, todos
Cabisbaixos, aguardando atuação

Convincente, enquanto o monólogo
Do palco, assim como o da folha
Segue seu ritual solitário, tecendo

Impropérios e verdades absolutas
Acerca dos mitos cotidianos. Tolos
Atores atuando em Ato solo.


Penélope SS

2-7-16  2h:13

Folhagem

Folhagem

A Jennifer Yamashita

Olhai-vos a lente que reluz através das mechas e folhas
Dia a mais que teima em chegar; em vida minha,
Existência de ser, estar e continuar sendo: universalmente pueril;
A cada ir e vir, por todos os prados,
todas as matérias que ainda hão de se formar em mim.
A cada gota celestial que ainda há de escoar em folhagens similares;
A cada flash na captura do simplório e exato;

Olhai-vos todos.
Pois ainda de pé estou.
Caminhante por entre concretos e flores.
Vivente na teimosia dos dias turvos.

Olhai-vos...

Folhagem e suspiros
Inseparavelmente me fiz e continuo sendo Montanha
Inconsequentemente em minha Altura
Tornei-me portal
Onde vislumbro o por vir

Olhai-vos todos

Aqui jaz o que Sou e Ei de Ser
Impreterivelmente Folhagem Alta Montanhosa.


Penélope SS

2-7-16   01h:34

sábado, 19 de março de 2016

Poema zero-hora

Poema zero-hora


Gastei tempo e solado de meus pés
Na busca de poesia firme e bela. Tolice
Romântica de quem se prende a épocas
Pueris, primaveris. De tantos revés,

Tantas idas e vindas, findei palermice
De meu ego; sossega poeta, sossega,
Pois o mais que se consegue são piegas
Palavras, ranhuras num papel.

Gastei tempo e saliva; caneta, dedos e tinta.
E assim, publiquei meus achados e perdidos
Nas idas e vindas de meus devaneios.

Gastei paciência alheia; roubei sono teu;
E assim me fiz visivelmente perdido,
Despercebidamente ateu.


Penélope SS

19-3-16  00h:00

Aurora

Aurora


Deu-se a aurora em minha existência.
Triste constatação a quem, de tanto ansiar,
Pôs-se a esconder-se nas entre linhas
De mãos calejadas. Debaixo desse sol

Que traz o vir e o porvir, o suor de meu rosto
Expõe todas as rugas, marcas de minha labuta
Árdua e tristonha, calejante e enfadonha.
Constato, por hora, que aurora tornou-se breu.

Deu-se o equinócio, o circular igualitário
Da partida e chegada; braços que dizem
Adeus; lábios sussurrantes; pernas que

Vão e vêm, no piso solitário e frio
Dos portões de embarque e desembarque. Pedirei
Um café, aguardando chegada de nova aurora.


Penélope SS

18-3-16  23h:15

sexta-feira, 18 de março de 2016

Pedra e vidraça

Pedra e vidraça

A quem interessar


Aos que hoje me atiram pedras, aos montes;
Aos que insurgem suas lâminas, línguas e açoites,
Em verdade vos digo que telhado hoje sou, vidraça
Exposta ao sol, chuva e intempéries do caos.

Aos arroubos dos sapos parnasianos, com
Sua nota única e uníssona, cantando, ecoando
Seu coaxar, “out, out, out”, sons de outrora,
Idade das trevas em terra de vera cruz,

Permito-me recusar teus agrados em troca de
Minha voz; permito-me abdicar de tuas especiarias,
Teus achaques e badulaques. Coaxais brejeiro,

Coaxais o mais alto que puderes, contudo
Não eis de olvidar que hoje, se vidraça
tornei-me eu, vindoura aurora tornar-te-á.


Penélope SS

18-3-16   22h:29

domingo, 13 de março de 2016

Chama-se Amar

Chama-se Amar
A Giovanna

Amar...
Dedicar-se a outrem mais do que a si
Tornar-se parte, imbricar-se enfim
De tal forma a pensamento uno formar.
Todavia, amar e somente amar nos torna
Taças frágeis, cristais quebráveis ao bel
Prazer do acaso.
Chama-se amar o amar
Chama-se amar o saber deixar, voar
Chama-se amar o desprender, respirar
Aprendi o amar nas palavras de Drummond:
“hoje beija, amanhã não beija...”
Sossega Giovanna, a vida é assim.
Amar o belo aos olhos de quem vê;
Amar o som das sílabas, canto de aves libertas;
Amar e deixar-se esvair, ir, seguir...
Finitamente é o amar,
Embora tentemos viver na antítese do fim
Finite est*¹.
Finite sumus*².


Penélope SS
15-12-15 23h:32


Naturalizei-me

Naturalizei-me
A Jennifer Yamashita


Saber-te explicar o êxtase interno
que em meu universo transborda,
seria tarefa demasiadamente desnecessária;
Alguns poucos sabem
o quanto me metamorfoseei
nesses logos dias de chuva e sol;
poeira e calor;
Troquei todas as minhas peles;
Larguei todos os pesos inertes;
Agruras, mazelas e afins.
Naturalizei-me
ao ponto de conhecer e neutralizar
minhas angústias;
Turvos foram os dias em que mais me protegi;
dores sem fim;
vermelhidão intensa em minh’alma;
rara calma nas vozes
que ao longe me soavam brandas alegrias.
Gotejei toda impureza, a cada madrugada,
lágrimas de um sal turvo e salobro.
E, hoje, permito-me respirar a plenos pulmões,
vertendo minhas lágrimas aos desejos e realizações presentes.



Penélope SS
16-12-15 00h:10

Poesia nada poética

Poesia nada poética


Minimamente, cada partícula cósmica
que habita em nossa existência,
move-se com tamanha velocidade
e tão intensamente firme que ao pensarmos
sobre nosso funcionamento
nos deparamos com inexplicáveis soluções e respostas.
Não há poema aqui e nem caminhos a percorrer
Nada além de advérbios e substantivos soltos
Em pleno ar-celestial.
Não há poesia em páginas de jornais
Nada além de números e gráficos coloridos
Em folhas que cheiram mal
Minimamente, cada fonema e letra,
agrupam-se, como se fora a folha
o único lugar abrasivo e terno
em todas as galáxias.
Poesia é coisa de quem conta estrelas
e anéis de saturno
Poema é desculpa às mazelas humanas.
Fechei meu jornal
e me pus a vagar
por entre as órbitas de tuas retinas.




Penélope SS
21-12-15 23h:21

Boa Viagem

Boa Viagem
Poema em homenagem a Alagoas


Terra de belo porte
Serras, montes aos montes
Ao sul ou ao norte
Descampados campos
Serve a nós de recanto
Moradia aos montes vejo.
O alegrar da liberdade nos olhos
Dos pequenos seminus,
Correndo à beira do asfalto.
Terra de meu viver
Tanto amor a ti declaro;
Terra de minhas raízes
Tanto afeto, carinho raro;
Terra de meu nascer
Em minhas unhas e pele
Te trago
E te levo comigo
Seja ao Norte ou ao Sul.
Pois a terra de meus encantos,
Mesmo as outras tendo tantos,
Tem mais lindo o céu azul.
Escrito durante trajeto Alagoas-Recife



Penélope SS
18-2-16 17h:15

segunda-feira, 7 de março de 2016

Sorriso anil

Sorriso anil

Poema em parceria com a artista, fotógrafa e amiga Jeniffer Yamashita

Entreguei-te todas as informações. A cerca de mim
Nada deixei em oculto. Pintei estradas e colori
Janelas, a fim de que não perdestes a trilha do meu lar
E, por fim, eis que minha porta abri, para ver-te aqui.

Puderas tu, cores e flores trazer em teus braços?
Puderas tu, amores tantos, doçuras, encantos?
Puderas... tu, puderas assim, tão primaveril?
Puderas tu, trazer aqui tão límpido céu?
Sorriso anil.


Penélope SS

7-3-16  00h:19

domingo, 6 de março de 2016

O sonho de Macbeth

O sonho de Macbeth


Tornei-me Rei. Assim, tendo em minhas
Mãos, teu sangue. Cobri-me de júbilo
E no mais enlouqueci ao notar-me
Diante de meu próprio quadro.

Constato aqui, no amplo castelo, pedras e muros,
O quanto ínfimo e sórdido fui. Atirei-me ao desejo
E me tornei majestade. Curvei-me diante de my Lady.
Oh! Quão tolos são os homens! Quão doce é o sabor

Que escorre por sobre a Terra: Poder, meu caro amigo.
Sentir olhares aos montes. Respirar o mais alto grau
Da corte. E, por fim, decair. Aos pés do destino fincar

Meu ser. Findo todo sonho de reinar; finda a magna ânsia;
Nesse trono finquei meu sangue; e permiti que escorresse
Por todo reino o pensar de meu desejo febril: eis-me Rei.


Penélope SS

15-2-16   22h:18   

Ano novo

Ano novo


Brindemos o passar triste das horas
Nesses díspares momentos de junção
Das vistas e vozes. Brindemos todos,
À medida que se tragam os espumantes,

Ergamos nossas taças e saudemos
A saúde dos estranhos conhecidos.
Vida! Viva! Vivamos então, até
Que cessem os espumantes e a

Paciência. Cara amiga, mãos
Aos céus e bolhas nas ventanas.
Doce coceira borbulhando em

Nossas narinas. Exijo mais um tilintar;
Mais uma data em vermelho
Mais uma roupa de gala. Brindemos!!!


Penélope SS

18-10-15

Filho da Terra (erma e querida)

Filho da Terra (erma e querida)

À minha amada Terra União do Palmares


Daqui sou
E me basta ser e ter o sangue dessa terra;
Teus brios e gemidos;
Tua impetuosidade destemida e inabalável.
Minha terra embrenha-se,
Percorre meu eu, como se outrora fosse sangue,
Não azul, mas sim rubro,
Red, vermelho, feito luta diária nos campos e prados de tuas serras.

Amo-te, terra minha,
Mesmo distante de tua sombra, teus arbustos,
Teu cheiro e tua fedentina;

Amo-te, sagrada casa dos poetas,
Onde, aos poucos, deitam-se teus letrados,
Um a um, na fria pedra marmórea da Morte.

Amo-te ao longe, feito desleixado amante.
Porém não penses tu que amor menor tenho
Por conta desse hiato entre nós.

Amo-te daqui como se aí estivera;
Amo-te bem firme e servil
Amo-te por hora, por agora e por
Vindoura Aurora.

Amo-te.


Penélope SS

18-10-15   00h:10

Mundo Psicológico

Mundo Psicológico
Poema sob encomenda


Ilógico, mundo meu, sabei eu, segredos teus?
Ao longe, ao perto, ao infinito, talvez mais além
Das tuas poeiras cósmicas a irritar-me as narinas.
Ilógico poema, desfaçatez de meu psicodelismo

Imerso em tuas retinas, meu charlatanesco lirismo
Degrau a degrau alça camadas de tua bio-, estrato-,
(feras). Rir de meus devaneios, ao menos saberei
Que dentro de tantas galáxias duas órbitas fixaram-se

Em miúdas linhas. E, mesmo com o fluir do cosmos,
Houve tempo a ti para de mim lembrar em tuas
Miradas nas linhas turvas que saltam aos pulos

Nesta imensidão de papel. Psicologicamente,
Humana-mente, cheia e infinitamente vasta
De meus eus, os quais vagueiam galáxias a fora.


Penélope SS

28/8/15   23h:41