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domingo, 21 de setembro de 2014

Ovo

Ovo


Quebrei minha casca e encontrei algumas feridas ainda abertas.
É pena não haver solução para a angústia humana.
É pena não haver um Manuel Bandeira para cada coração em pânico.
E nós, pobres mortais, seguimos pisando em pegadas passadas.
Andando em círculos sem rota de fuga ou saída de emergência.

Quebrei meus óculos nessa manhã fria e chuvosa de domingo.
Ouvir os pingos é bem melhor que enxergar o correr da água sobre a janela.
É pena não haver um Vinícius de Moraes para cada garota que desfila sua beleza por Ipanema.
E nós, tristes mortais, seguimos tropeçando nas calçadas esburacadas
E escuras das vielas cariocas ou alagoanas ou paulistas ou mineiras ou palmarinas ou tatuienses ou norte-americanas ou israelenses...

Quebrei minha casca e saí o mais rápido que pude.
E corri, e corri, e corri, e sem olhar para trás, ofegante,
Recostei-me em teu muro e ali, soube que faria minha morada: tua casa, minha casa.

Dilui-se a casca e eis que me faço igual a ti.


Penélope SS

22h:34  21-9-14

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